EFÉSIOS 5.12, UM TEXTO ESQUECIDO? E EU ME PERGUNTO O PORQUE DISSO
Pergunto-me se existe um texto
mais negligenciado no Novo Testamento, no atual reavivamento de interesse pela
teologia reformada, do que Efésios 5.12. Nas reações aos tabus do antigo
fundamentalismo, há certamente um perigo de termos perdido todo senso do que é
biblicamente apropriado quando diz respeito a nos envolvermos com o resto do
mundo. Eu tive minha própria experiência disso há uns poucos anos, quando
sugeri neste blog que talvez não fosse apropriado que cristãos vissem o filme
Milk, que era não apenas um relato altamente fictício da vida de Harvey Milk,
mas também incluía, de acordo com os resenhistas, cenas sexuais de natureza
explícita e inapropriada. Ainda me lembro da tempestade em copo d’água de
protestos à medida que vários amantes da cultura cristã deram-me sermões sobre
como minha mente fechada não iria impedi-los de usar Milk como um meio de
testemunhar aos amigos. Mas nenhum desses evangelistas indignados lidou com
Efésios 5.12.
“Porque o que eles fazem em oculto até dizê-lo é torpe.”
Mais recentemente, a mesma
preocupação pública no mundo evangélico com os tratamentos excessivamente
explícitos sobre a questão sexo trouxe uma vez mais à minha mente Efésios 5.12.
Paulo, sem dúvida, não era legalista. Ele afirmava a livre graça e a liberdade
cristã. Todavia, ele escreveu Efésios 5.12. Assim, o que a passagem quer dizer?
Bem, quer dizer exatamente o que parece dizer. Você não precisa de uma
qualificação de pós-doutorado em Judaísmo do Segundo Templo para entender isso.
Eis aqui como Peter O’Brien
explica o versículo (e se você nunca leu Peter O’Brien, compre tudo o que puder
dele – um cavalheiro, pastor e exegeta cristão magistral):
“A expressão anterior, ‘as obras infrutuosas das trevas’ (v. 11), é uma
declaração geral e poderia incluir pecados feitos abertamente, bem como aqueles
cometidos secretamente. Tal descrição foca-se no caráter perverso de tais pecados
– eles pertencem ao reino das trevas – e no fato de serem extremamente
estéreis. Essas ‘obras’ são os vícios sexuais (talvez até mesmo perversões)
mencionados no v. 3, não rituais religiosos pagãos imorais, como alguns têm
sugerido. Elas são agora descritas como ‘as coisas feitas em segredo': aqueles
que as cometem (i.e., os ‘desobedientes’ dos vv. 6, 7) não querem que os seus
pecados sejam expostos (cf. João 3.20). Mas suas obras tenebrosas são tão
repugnantes, Paulo afirma, que é ‘vergonhoso’ até mesmo mencioná-las, quanto
mais fazê-las. Ele repudia totalmente esses pecados sexuais, mas deseja
transmitir a gravidade do caso sem mencionar os detalhes da depravação. Paulo e
seus leitores sabiam quais eram esses pecados, e ele não iria citá-los para não
dignificá-los. Em vez disso, ele queria que a luz do evangelho brilhasse na
vida dos seus leitores e desejava expor essas obras como aquilo que realmente
eram.” (The Letter to the Ephesians, 371-72).
A explicação de O’Brien’s é tão
clara como a declaração original de Paulo, embora ele traga belamente à tona o
fato de que a luz do evangelho deve ser o foco. O evangelho é luz; ele é
verdadeiramente belo. Sem dúvida, é glorioso acordar de manhã e saber que não
importa quais sejam as trevas que se escondam em nossos corações, a luz de
Cristo é suficiente para dissipá-las. Por que alguém desejaria se deter em
qualquer detalhe das obras das trevas, quando poderia gastar tempo refletindo
sobre a magnificência de Deus manifesto em carne?
No passado, com frequência fiquei
ao lado daqueles que riem do que consideramos tabus ignorantes e pouco
sofisticados da antiga geração. Mas agora eu me preocupo com a facilidade com a
qual a geração atual fala explicitamente das “obras infrutuosas das trevas” em
nome de engajamento cultural, medo de ser considerado ultrapassado ou
simplesmente um desejo de desfazer-se dos legalismos dos seus pais na fé. Você
pode, afinal, chegar ao céu sem jamais ter visto um filme para adultos ou ter
desfrutado uma vida amorosa espetacular.
Aqui está uma pergunta: faria
alguma diferença para você, qualquer diferença que seja, na maneira como você
fala, naquilo que você assiste, ou na forma como se “envolve culturalmente” se
Efésios 5.12 jamais tivesse sido escrito?
Texto publicado originalmente em Monergismo
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