A
"Confissão de Fé" data do ano de 1561 e foi escrita na língua
francesa porque era a língua materna do autor, Guido de Brés (1522-1567).
Contudo, ele não era francês, mas holandês.
Guido de Brés levou uma
vida agitada; foi pastor em várias cidades; também viveu como fugitivo em
Londres e, mais tarde, em Genebra, onde foi aluno de João Calvino. Ele morreu
como mártir, por enforcamento.
Na noite de 1 para 2 de
novembro de 1561, a "Confissão de Fé", na forma de um livrinho, foi
lançada sobre o muro do castelo da cidade onde Guido de Brés estava (a cidade
de Doornik). Ele queria que os comissários, que haviam chegado àquela cidade
para destruir a Reforma, achassem o pacote, endereçado ao rei Felipe II (não
sabemos se Felipe II realmente chegou a ver ou ler a "Confissão de
Fé").
Através do livrinho,
Guido de Brés pretendia desmentir a queixa de que os reformados eram
revolucionários e hereges. Por isso, uma carta estava inclusa, em que se pedia
liberdade de religião.
ARTIGO 1 - O ÚNICO DEUS
Todos nós cremos com o
coração e confessamos com a bocal que há um só Deus2, um único e simples ser
espiritual3. Ele é eterno4, incompreensível5 invisível6, imutável7, infinito8, todo-poderoso9; totalmente sábiol0, justo11 e bom12, e uma fonte muito
abundante de todo bem7.
1 Rm 10:10. 2 Dt
6:4; 1Co 8:4,6; 1Tm 2:5. 3 Jo 4:24. 4 S1 90:2. 5 Rm
11:33. 6 Cl 1:15; 1Tm 6:16. 7 Tg 1:17. 8 1Rs
8:27; Jr 23:24. 9 Gn 17:1; Mt 19:26; Ap 1:8. 10 Rm 16:27.
11 Rm 3:25,26; Rm 9:14; Ap 16:5,7. 12 Mt 19:17. Veja
também Is 40, 44 e 46.
ARTIGO 2 - COMO CONHECEMOS A DEUS
Nós O conhecemos por
dois meios. Primeiro: pela criação, manutenção e governo do mundo inteiro,
visto que o mundo, perante nossos olhos, é como um livro formoso1,
em que todas as criaturas, grandes e pequenas, servem de letras que nos fazem
contemplar "os atributos invisíveis de Deus", isto é, "o seu
eterno poder e a sua divindade", como diz o apóstolo Paulo (Romanos 1:20.
Todos estes atributos são suficientes para convencer os homens e torná-los
indesculpáveis.
Segundo: Deus se fez
conhecer, ainda mais clara e plenamente, por sua sagrada e divina Palavra2,
isto é, tanto quanto nos é necessário nesta vida, para sua glória e para a
salvação dos que Lhe pertencem.
1 Sl 19:1-4. 2 Sl 19:7,8; 1Co 1:18-21.
ARTIGO 3 - A PALAVRA DE
DEUS
Confessamos que a
palavra de Deus não foi enviada nem produzida "por vontade humana, mas
homens falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo", como diz o
apóstolo Pedro (2 Pedro 1:21). Depois, Deus, por seu cuidado especial para
conosco e para com a nossa salvação, mandou seus servos, os profetas e os
apóstolos, escreverem sua palavra revelada1. Ele mesmo escreveu com
o próprio dedo as duas tábuas da lei2.Por isso, chamamos estas
escritas: sagradas e divinas Escrituras3.
1
Êx 34:27; Sl 102:18; Ap
1:11,19. 2 Êx 31:18. 3 2Tm 3:16.
ARTIGO 4 - OS LIVROS
CANÔNICOS
A Sagrada Escritura
consiste de dois volumes: O Antigo e o Novo Testamento, que são canônicos e não
podem ser contraditos de forma alguma. A Igreja de Deus
reconhece a lista seguinte:
Os livros do Antigo
Testamento: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio (os
cinco livros de Moisés); Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2
Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes,
Cantares; Isaías, Jeremias (com Lamentações), Ezequiel, Daniel (os quatro
profetas maiores); Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum,
Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias (os doze profetas menores);
Os livros do Novo
Testamento: Mateus, Marcos, Lucas, João (os quatro
evangelistas); Atos dos Apóstolos; Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios,
Filipenses, Colossenses, 1 e 2
Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, Filemom (as treze epístolas do apóstolo
Paulo); Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3 João, Judas e
Apocalipse.
ARTIGO 5 - A AUTORIDADE
DA SAGRADA ESCRITURA
Recebemos1
todos estes livros, e somente estes, como sagrados e canônicos, para regular,
fundamentar e confirmar nossa fé2. Acreditamos, sem dúvida nenhuma,
em tudo que eles contêm, não tanto porque a igreja aceita e reconhece estes
livros como canônicos, mas principalmente porque o Espírito Santo testifica em
nossos corações que eles vêm de Deus3, como eles mesmos provam. Pois
até os cegos podem sentir que as coisas, preditas neles, se cumprem4.
1
1Ts 2:13. 2 2Tm
3:16,17. 3 1Co 12:3; 1Jo 4:6; 1Jo 5:6b. 4 Dt 18:21,22; 1Rs 22:28;
Jr 28:9; Ez 33:33.
ARTIGO 6 - A DIFERENÇA
ENTRE OS LIVROS CANÔNICOS E APÓCRIFOS
Distinguimos estes
livros sagrados dos livros apócrifos que são os seguintes: 3 e 4 Esdras,
Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, os Acréscimos ao livro de Ester
e Daniel, a Oração de Manassés e 1 e 2 Macabeus.
A igreja pode, sim, ler
estes livros e tirar deles ensino, na medida em que concordem com os livros
canônicos. Porém, os apócrifos não tem tanto poder e autoridade que o
testemunho deles possa confirmar qualquer artigo da fé ou da religião cristã; e
muito menos podem eles diminuir a autoridade dos sagrados livros.
ARTIGO 7 - A SAGRADA
ESCRITURA : PERFEITA E COMPLETA
Cremos que esta Sagrada
Escritura contém perfeitamente a vontade de Deus e suficientemente ensina tudo
o que o homem deve crer para ser salvo1. Nela, Deus descreveu, por
extenso, toda a maneira de servi-Lo. por isso, não e lícito aos homens, mesmo
que fossem apóstolos "ou um anjo vindo do céu", conforme diz o
apóstolo Paulo (Gálatas 1:8), ensinarem outra doutrina, senão aquela da Sagrada
Escritura2. É proibido "acrescentar algo a Pa lavra de Deus ou
tirar algo dela"3 (Deuteronômio 12:32; Apocalipse 22:18,19).
Assim se mostra claramente que sua doutrina é perfeitíssima e, em todos os
sentidos, completa4.
Não se pode igualar
escritos de homens, por mais santos que fossem os autores, às Escrituras
divinas. Nem se pode igualar à verdade de Deus costumes, opiniões da maioria,
instituições antigas, sucessão de tempos ou de pessoas, ou concílios, decretos
ou resoluções5. Pois a verdade está acima de tudo e todos os homens
são mentirosos (Salmo 116:11) e "mais leves que a vaidade" (Salmo
62:9).
Por isso, rejeitamos, de
todo o coração, tudo que não está de acordo com esta regra infalível6,
conforme os apóstolos nos ensinaram: "Provai os espíritos se procedem de
Deus" (l João 4:1), e: "Se alguém vem ter convosco e não traz esta
doutrina, não o recebais em casa" (2 João :10).
1
2Tm 3:16,17; 1Pe 1:10-12. 2
1Co 15:2; 1Tm 1:3. 3 Dt 4:2; Pv 30:6; At 26:22; 1Co 4:6. 4
Sl 19:7; Jo 15:15; At 18:28; At 20:27; Rm 15:4. 5 Mc 7:7-9; At
4:19; Cl 2:8; 1Jo 2:19. 6 Dt 4:5,6; Is 8:20; 1Co 3:11; Ef 4:4-6; 2Ts
2:2; 2Tm 3:14,15.
ARTIGO 8 - A TRINDADE:
UM SÓ DEUS, TRÊS PESSOAS
Conforme esta verdade e
esta palavra de Deus, cremos em um só Deus1, que é um único ser, em
que há três Pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo2. Estas são,
realmente e desde a eternidade, distintas conforme os atributos próprios de
cada Pessoa.
O Pai é a causa, a
origem e o princípio de todas as coisas visíveis e invisíveis3. O
Filho é o Verbo, a sabedoria e a imagem do Pai . O Espírito Santo, que procede
do Pai e do Filho, é a eterna força e o poder5.
Esta distinção não
significa que Deus está dividido em três. Pois a Sagrada Escritura nos ensina
que cada um destes três, o Pai e o Filho e o Espírito Santo, tem sua própria
existência, distinta por seus atributos, de tal maneira, porém, que estas três
pessoas são um só Deus. É claro, então, que o Pai não é o Filho e que o Filho
não é o Pai; que, também, o Espírito Santo não é o Pai ou o Filho.
Entretanto, estas
Pessoas, assim distintas, não são divididas nem confundidas entre si. Porque
somente o Filho se tornou homem, não o Pai ou o Espírito Santo. O Pai jamais
existiu sem seu Filho6 e sem seu Espírito Santo, pois todos os três
têm igual eternidade, no mesmo ser. Não há primeiro nem último, pois todos os
três são um só em verdade, em poder, em bondade e em misericórdia.
1
1Co 8:4-6. 2 Mc
3:16,17; Mt 28:19. 3 Ef 3:14,15. 4 Pv 8:22-31; Jo 1:14;
Jo 5:17-26; 1Co 1:24; Cl 1:15-20; Hb 1:3; Ap 19:13. 5 Jo 15:26. 6
Mq 5:1; Jo 1:1,2.
ARTIGO 9 - O TESTEMUNHO
DA ESCRITURA SOBRE A TRINDADE
Tudo isto sabemos tanto
pelo testemunho da Sagrada Escritura1, como pelas obras das três
Pessoas, principalmente por aquelas que percebemos em nós. Os testemunhos das
Sagradas Escrituras, que nos ensinam a crer nesta Trindade, se acham em muitos
lugares do Antigo Testamento. Não é preciso alistá-los, somente escolhê-los
cuidadosamente. Em Gênesis 1:26 e 27, Deus
diz: "Façamos o
homem a nossa imagem, conforme a nossa semelhança" etc. "Criou Deus,
pois, o homem a sua imagem; homem e mulher os criou".
Assim também em Gênesis
3:22: "Eis que o homem se tornou como um de nós". Com isto se mostra
que há mais de uma pessoa em Deus, porque Ele
diz: "Façamos o
homem a nossa imagem"; e, em seguida, Ele indica que há um só Deus, quando
diz: "Deus criou". É verdade que Ele não diz quantas pessoas há, mas
o que é um tanto obscuro, para nós, no Antigo Testamento, é bem claro no Novo.
Pois quando nosso Senhor foi batizado no rio Jordão, ouviu-se a voz do Pai, que
falou: "Este é o meu filho amado" (Mateus 3:17); enquanto o Filho foi
visto na água e o Espírito Santo se manifestou em forma de pomba2.
Além disto, Cristo
instituiu, para o batismo de todos os fiéis, esta forma: Batizai todas as
nações "em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mateus
28:19). No evangelho segundo Lucas, o anjo Gabriel diz a Maria, mãe do Senhor:
"Descerá sobre ti o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te envolverá com
a sua sombra; por isso também o ente santo que há de nascer, será chamado Filho
de Deus" (Lucas 1:35). Do mesmo modo: "A graça do Senhor Jesus
Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos
vós" (2 Coríntios 13:13). * Em todos estes lugares, nos é ensinado que há
três Pessoas em um só ser divino. E embora esta doutrina ultrapasse o
entendimento humano, cremos nela, baseados na Palavra, e esperamos gozar de seu
pleno conhecimento e fruto no céu.
Devemos considerar,
também, a obra própria que cada uma destas três Pessoas efetua em nós: o Pai é
chamado nosso Criador, por seu poder; o Filho é nosso Salvador e Redentor, por
seu sangue; o Espírito Santo é nosso Santificador, porque habita em nosso
coração.
A verdadeira igreja
sempre tem mantido esta doutrina da Trindade, desde os dias dos apóstolos até
hoje, contra os judeus, os muçulmanos e falsos cristãos e hereges como Marcião,
Mani, Práxeas, Sabélio, Paulo de Samósata, Ário e outros. A igreja antiga os
condenou, com toda a razão. por isso, nesta matéria, aceitamos, de boa vontade,
os três Credos ecumênicos, a saber: o Apostólico, o Niceno e o Atanasiano; e
também o que a igreja antiga determinou em conformidade com estes credos.
1
Jo 14:16; Jo 15:26; At
2:32,33; Rm 8:9; Gl 4:6; Tt 3:4-6; 1Pe 1:2; 1Jo 4:13,14; 1Jo 5:1-12; Jd :20,21;
Ap 1:4,5. 2 Mt 3:16.
* Originalmente o texto
incluía aqui as seguintes palavras: "E: "há três que dão testemunho
no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um" (1 Jo
5:7)". A referência a 1 João 5:7b e duvidosa, porque este texto não se
acha nos manuscritos antigos.
ARTIGO 10 - JESUS CRISTO
É DEUS
Cremos que Jesus Cristo,
segundo sua natureza divina, é o único Filho de Deusl, gerado desde
a eternidade. Ele não foi feito, nem criado - pois, assim, Ele seria uma
criatura, - mas é de igual substância do pai, co-eterno, "o resplendor da
glória e a expressão exata do seu Ser" (Hebreus 1:3), igual a Ele em tudo2. Ele é o Filho de Deus, não somente desde que
assumiu nossa natureza, mas desde a eternidade3, como os seguintes
testemunhos nos ensinam, ao serem comparados uns aos outros:
Moisés diz que Deus
criou o mundo4, e o apóstolo João diz que todas as coisas foram
feitas por intermédio do Verbo que ele chama Deus5. O apóstolo diz
que Deus fez o universo por seu Filho6 e, também, que Deus criou
todas as coisas por meio de Jesus Cristo7. Segue-se necessariamente
que aquele que é chamado Deus, o Verbo, o Filho e Jesus Cristo, já existia,
quando todas as coisas foram criadas por Ele. O profeta Miquéias, portanto,
diz: "Suas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade"
(Miquéias 5:2); e a carta aos Hebreus testemunha: "Ele não teve princípio
de dias, nem fim de existência" (Hebreus 7:3).
Assim, Ele é o
verdadeiro, eterno Deus, o Todo-poderoso, a quem invocamos, adoramos e
servimos.
1 Mt 17:5; Jo 1:14,18; Jo 3:16; Jo 14:1-14; Jo
20:17,31; Rm 1:4; Gl 4:4; Hb 1:1; lJo 5:5,9-12. 2 Jo 5:18,23; Jo
10:30; Jo 14:9; Jo 20:28; Rm 9:5; Fp 2:6; Cl 1:15; Tt 2:13; Hb 1:3; Ap 5:13. 3
Jo 8:58; Jo 17:5; Hb 13:8. 4 Gn 1:1. 5 Jo 1:1-3. 6
Hb 1:2. 7 1Co 8:6; Cl 1:16.
ARTIGO 11 - O ESPÍRITO
SANTO É DEUS
Cremos e confessamos,
também, que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, desde a eternidade. Ele
não foi feito, nem criado, nem gerado; mas procede de ambos1.
Na ordem, Ele é a
terceira pessoa da Trindade, de igual substância, majestade e glória do Pai e
do Filho, verdadeiro e eterno Deus, como nos ensinam as Sagradas Escrituras2.
1
Jo 14:15-26; Jo 15:26; Rm
8:9. 2 Gn 1:2; Mt 28:19; At 5:3,4; lCo 2:10; 1Co 6:11; 1Jo 5:6.
ARTIGO 12 - A CRIAÇÃO DO
MUNDO; OS ANJOS
Cremos que o Pai, por
seu Verbo - quer dizer: por seu Filho -, criou, do nada, o céu, a terra e todas
as criaturas, quando bem Lhe aprouvel. A cada criatura Ele deu sua
própria natureza e forma e sua própria função para servir ao seu Criador.
Também, Ele ainda hoje sustenta todas essas criaturas e as governa segundo sua
eterna providencia e por seu infinito poder, para elas servirem ao homem, a fim
de que o homem sirva a seu Deus.
Ele também criou bons os
anjos para serem seus mensageiros e servirem aos eleitos2. Alguns
deles caíram na eterna perdição3, da posição excelente em que Deus
os tinha criado, mas os outros, pela graça de Deus, perseveraram e continuaram
em sua primeira posição. Os demônios e os espíritos malignos são tão
corrompidos que são inimigos de Deus e de todo o bem4. Como
assassinos, com toda a sua força, estão a espreita da igreja e de cada um de
seus membros, para demolir e destruir tudo com sua astúcia5. Por
isso, por causa de sua própria malícia, estão condenados a maldição eterna e
aguardam, a cada dia, seus tormentos terríveis6.
Neste ponto, rejeitamos
e detestamos o erro dos saduceus que negam a existência de espíritos e de anjos7;
também o erro dos maniqueus que dizem que os demônios têm sua origem em si
mesmos e são maus por natureza; eles negam que os demônios se corromperam.
1
Gn 1:1; Gn 2:3; Is 40:26;
Jr 32:17; Cl 1:15,16; lTm 4:3; Hb 11:3; Ap 4:11. 2 Sl 103:20,21; Mt
4:11; Hb 1:14. 3 Jo 8:44; 2Pe 2:4; Jd :6. 4 Gn 3:1-5; lPe
5:8. 5 Ef 6:12; Ap 12:4,13-17; Ap 20:7-9. 6 Mt 8:29; Mt 25:41; Ap
20:10. 7 At 23:8.
ARTIGO 13 - A
PROVIDÊNCIA DE DEUS
Cremos que o bom Deus,
depois de ter criado todas as coisas, não as abandonou, nem as entregou ao
acaso ou a sorte1, mas que as dirige e governa conforme sua santa
vontade, de tal maneira que neste mundo nada acontece sem sua determinação2.
Contudo, Deus não é o autor, nem tem culpa do pecado que se comete3.
Pois seu poder e bondade são tão grandes e incompreensíveis, que Ele ordena e
faz sua obra muito bem e com justiça, mesmo que os demônios e os ímpios ajam
injustamente4. E as obras dEle que ultrapassam o entendimento
humano, não queremos investigá-las curiosamente, além da nossa capacidade de
entender. Mas, adoramos humilde e piedosamente a Deus em seus justos
julgamentos, que nos estão escondidos5. Contentamo-nos em ser
discípulos de Cristo, a fim de que aprendamos somente o que Ele nos ensina na
sua Palavra, sem ultrapassar estes limites6.
Este ensino nos traz um
inexprimível consolo, quando aprendemos dele, que nada nos acontece por acaso,
mas pela determinação de nosso bondoso Pai celestial. Ele nos protege com um
cuidado paternal, dominando todas as criaturas de tal modo que nenhum cabelo -
pois estes estão todos contados- e nenhum pardal cairão em terra sem o
consentimento de nosso Pai (Mateus 10:29,30). Confiamos nisto, pois sabemos que
Ele reprime os demônios e todos os nossos inimigos, e que eles, sem sua
permissão, não nos podem prejudicar7. Por isso, rejeitamos o
detestável erro dos epicureus, que dizem que Deus não se importa com nada e
entrega tudo ao acaso.
1
Jo 5:17; Hb 1:3. 2 Sl
115:3; Pv 16:1,9,33; Pv 21:1; Ef 1:11. 3 Tg 1:13; 1Jo 2:16. 4
Jó 1:21; Is 10:5; Is 45:7; Am 3:6; At 2:23; At 4:27,28. 5 1Rs 22:19-23; Rm 1:28;
2Ts 2:11. 6 Dt 29:29; 1Co 4:6. 7 Gn 45:8; Gn 50:20; 2Sm
16:10; Rm 8:28,38,39.
ARTIGO 14 - A CRIAÇÃO DO
HOMEM. SUA QUEDA E SUA INCAPACIDADE DE FAZER O BEM
Cremos que Deus criou o
homem do pó da terra1, e o fez e formou conforme sua imagem e
semelhança: bom, justo e santo2, capaz de concordar, em tudo, com a
vontade de Deus. Mas, quando o homem estava naquela posição excelente, ele não
a valorizou e não a reconheceu. Dando ouvidos às palavras do diabo, submeteu-se
por livre vontade ao pecado e assim à morte e à maldição3. Pois
transgrediu o mandamento da vida, que tinha recebido e, pelo pecado, separou-se
de Deus, que era sua verdadeira vida. Assim ele corrompeu toda a sua natureza e
mereceu a morte corporal e espiritual4.
Tornando-se ímpio,
perverso e corrupto em todas as suas práticas, ele perdeu todos os dons
excelentes5, que tinha recebido de Deus. Nada lhe sobrou destes
dons, senão pequenos traços, que são suficientes para deixar o homem sem
desculpa6. Pois toda a luz em nós se tornou em trevas7
como nos ensina a Escritura: "A luz resplandece nas trevas, e as trevas
não prevaleceram contra ela" (João 1:5). Aqui o apóstolo João chama os
homens "trevas". Por isso, rejeitamos todo o ensino contrário, sobre
o livre arbítrio do homem, porque o homem somente é escravo do pecado e
"não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada" (João
3:27). Pois quem se gloriará de fazer alguma coisa boa pela própria força, se
Cristo diz: "Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o
trouxer" (João 6:44)? Quem falará sobre sua própria vontade sabendo que
"o pendor da carne e inimizade contra Deus" (Romanos 8:7)? Quem
ousará vangloriar-se sobre seu próprio conhecimento, reconhecendo que "o
homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus" (1Coríntios 2:14)?
Em resumo: quem apresentará um pensamento sequer, admitindo que não somos
"capazes de pensar alguma coisa como se partisse de nós", mas que
"a nossa suficiência vem de Deus" (2Coríntios 3:5)?
Por isso, devemos
insistir nesta palavra do apóstolo: "Deus é quem efetua em vós tanto o
querer como o realizar, segundo a sua vontade" (Filipenses 2:13). Pois,
somente o entendimento ou a vontade que Cristo opera no homem, está em
conformidade com o entendimento e vontade de Deus, como Ele ensina: "Sem
mim nada podeis fazer" (João 15:5).
1
Gn 2:7; Gn 3:19; Ec 12:7. 2 Gn 1:26,27; Ef 4:24; Cl 3:10. 3 Gn
3:16-19; Rm 5:12. 4 Gn 2:17; Ef 2:1; Ef 4:18. 5 Sl 94:11; Rm 3:10;
Rm 8:6. 6 Rm 1:20,21. 7 Ef 5:8.
ARTIGO 15 - O PECADO
ORIGINAL
Cremos que, pela
desobediência de Adão, o pecado original se estendeu por todo o gênero humanol.
Este pecado é uma depravação de toda a natureza humana2 e um mal
hereditário, com que até as crianças no ventre de suas mães estão contaminadas3.
É a raiz que produz no homem todo tipo de pecado. por isso, é tão repugnante e
abominável diante de Deus que é suficiente para condenar o gênero humano4.
Nem pelo batismo o
pecado original é totalmente anulado ou destruído, porque o pecado sempre jorra
desta depravação como água corrente de uma fonte contaminada5. 0
pecado original, porém, não é atribuído aos filhos de Deus para condená-los,
mas é perdoado pela graça e misericórdia de Deus6. Isto não quer
dizer que eles podem continuar descuidadamente numa vida pecaminosa. Pelo
contrário, os fiéis, conscientes desta depravação, devem aspirar a livrar-se do
corpo dominado pela morte (Romanos 7:24). Neste ponto rejeitamos o
erro do pelagianismo, que diz que o pecado é somente uma questão de imitação.
1 Rm 5:12-14,19. 2 Rm 3:10. 3 Jó
14:4; Sl 51:5; Jo 3:6. 4 Ef 2:3. 5 Rm 7:18,19. 6 Ef
2:4,5.
ARTIGO 16 - ELEIÇÃO
ETERNA POR DEUS
Cremos que Deus, quando
o pecado do primeiro homem lançou Adão e toda a sua descendência na perdiçãol
mostrou-se como Ele é, a saber: misericordioso e justo. Misericordioso, porque
Ele livra e salva da perdição aqueles que Ele em seu eterno e imutável conselho2,
somente pela bondade, elegeu3 em Jesus Cristo nosso Senhor4,
sem levar em consideração obra alguma deles5. Justo, porque Ele
deixa os demais na queda e perdição, em que eles mesmos se lançaram6.
1 Rm 3:12. 2 Jo 6:37,44; Jo 10:29: Jo 17:
2,9,12; Jo 18:9. 3 1Sm
12:22; Sl 65:4; At 13: 48; Rm 9:16; Rm 11:5; Tt 1:1. 4 Jo 15:16,19; Rm
8:29; Ef 1:4,5. 5 Ml 1:2,3; Rm 9:11-13; 2Tm 1:9; Tt 3:4,5. 6 Rm
9:19-22; 1Pe 2:8.
ARTIGO 17 - O SALVADOR,
PROMETIDO POR DEUS
Cremos que nosso bom
Deus, vendo que o homem havia se lançado assim na morte corporal e espiritual e
se havia feito totalmente miserável, foi pessoalmente em busca do homem, quando
este, tremendo, fugia de sua presençal. Assim Deus mostrou sua
maravilhosa sabedoria e bondade. Ele confortou o homem com a promessa de lhe
dar seu Filho, que nasceria de uma mulher (Gálatas 4:4) a fim de esmagar a
cabeça da serpente (Gênesis 3:15) e de tornar feliz o homem2.
1
Gn 3:9. 2 Gn
22:18; Is 7:14; Jo 1:14; Jo 5:46; Jo 7:42; At 13:32; Rm 1:2,3; Gl 3:16; 2Tm
2:8; Hb 7:14.
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