Uma Breve Biografia
Houve
época em que o simples fato de optar pela religião evangélica equivalia a
colocar a cabeça a prêmio. No século 15, Carlos V, o imperador espanhol,
queimou milhares de evangélicos em praça pública. Seu filho, Filipe II,
vangloriava-se de ter eliminado dos países baixos da Europa cerca de 18 mil
"hereges protestantes". Para fugir da perseguição implacável, outros
milhares de cristãos foram para a Inglaterra. Dentre eles, estava a família de
Charles Haddon Spurgeon (1834-1892), o homem que se tornaria um dos maiores
pregadores de todo o Reino Unido. Charles obteve tão bom resultado em seu
ministério evangelístico que, além de influenciar gerações de pastores e
missionários com seus sermões e livros, até hoje é chamado de Príncipe dos
pregadores.
O maior dos pecadores
Spurgeon
era filho e neto de pastores que haviam fugido da perseguição. No entanto,
somente aos 15 anos, ocorreu seu verdadeiro encontro com Jesus. Segundo os
livros que contam a história de sua vida, Spurgeon orou, durante seis meses,
para que, "se houvesse um Deus", Este pudesse falar-lhe ao coração,
uma vez que se sentia o maior dos pecadores. Spurgeon visitou diversas igrejas
sem, contudo, tomar uma decisão por Cristo.
Certa
noite, porém, uma tempestade de neve impediu que o pastor de uma igreja local
pudesse assumir o púlpito. Um dos membros da congregação - um humilde sapateiro
- tomou a palavra e pregou de maneira bem simples uma mensagem com base em
Isaías 45.22a: Olhai para mim e sereis salvos, vós todos os termos da terra.
Desprovido de qualquer experiência, o pregador repetiu o versículo várias vezes
antes de direcionar o apelo final. Spurgeon não conteve as lágrimas, tamanho o
impacto causado pela Palavra de Deus.
Início de uma nova caminhada
Após
a conversão, Spurgeon começou a distribuir folhetos nas ruas e a ensinar a
Bíblia na escola dominical para crianças em Newmarkete Cambridge.
Embora fosse jovem, Spurgeon tinha rara habilidade no manejo
da Palavra e demonstrava possuir algumas características fundamentais para um
pregador do Evangelho. Suas pregações eram tão eletrizantes e intensas que,
dois anos depois de seu primeiro sermão, Spurgeon, então aos 20 anos, foi
convidado a assumir o púlpito da Igreja Batista de Park Street Chapel, em
Londres, antes pastoreada pelo teólogo John Gill. O desafio, entretanto, era
imenso. Afinal, que chance de sucesso teria um menino criado no campo
(Anteriormente, Spurgeon pastoreava uma pequena igreja em Waterbeach, distante
da capital inglesa), diante do púlpito de uma igreja enorme que agonizava?
Localizada
em uma área metropolitana, Park Street Chapel havia sido uma das maiores
igrejas da Inglaterra. No entanto, naquele momento, o edifício, com 1.200
lugares, contava com uma platéia de pouco mais de cem pessoas. A última metade
do século 19 foi um período muito difícil para as igrejas inglesas. Londres
fora industrializada rapidamente, e as pessoas trabalhavam durante muitas
horas. Não havia tempo para as pessoas se dedicarem ao Senhor. No entanto,
Spurgeon aceitou sem temor aquele desafio.
Tamanha audiência
O
sermão inaugural de Spurgeon, naquela enorme igreja, ocorreu em 18 de dezembro
de 1853. Havia ali um grupo de fiéis que nunca cessou de rogar a Deus por um
glorioso avivamento. No início, eu pregava somente a um punhado de ouvintes.
Contudo, não me esqueço da insistência das suas orações. Às vezes, parecia que
eles rogavam até verem a presença de Jesus ali para abençoá-los. Assim desceu a
bênção, a casa começou a se encher de ouvintes e foram salvas dezenas de almas,
lembrou Spurgeon alguns anos depois.
Nos
anos que se seguiram, o templo, antes vazio, não suportava a audiência, que
chegou a dez mil pessoas, somada a assistência de todos os cultos da semana. O
número de pessoas era tão grande que as ruas próximas à igreja se tomaram
intransitáveis. Logo, as instalações do templo ficaram inadequadas, e, por
isso, foi construído o grande Tabernáculo Metropolitano, com capacidade para 12
mil ouvintes. Mesmo assim, de três em três meses, Spurgeon pedia às pessoas,
que tivessem assistido aos cultos naquele período, que se ausentassem a fim de
que outros pudessem estar no templo para conhecer a Palavra.
Muitas
congregações, um seminário e um orfanato foram estabelecidos. Com o passar do
tempo, Charles Spurgeon se tornou uma celebridade mundial. Recebia convites
para pregar em outras cidades da Inglaterra, bem como em outros países como
França, Escócia, Irlanda, País de Gales e Holanda. Spurgeon levava as Boas
Novas não só para as reuniões ao ar livre, mas também aos maiores edifícios de 8 a 12 vezes por semana.
Segundo uma de suas biografias, o maior auditório
em que pregou continha, exatamente, 23.654 pessoas: este imenso público lotou o
Crystal Palace, de Londres, no dia 7 de outubro de 1857, para ouvi-lo pregar
por mais de duas horas.
Sucesso
Mais
de cem anos depois de sua morte, muitos teólogos ainda tentam descobrir como
Spurgeon obtinha tamanho sucesso. Uns o atribuem às suas ilustrações notáveis,
a habilidade que possuía para surpreender a platéia e à forma com que encarava
o sofrimento das pessoas. Entretanto, para o famoso teólogo americano Ernest W.
Toucinho, autor de uma biografia sobre Spurgeon, os fatores que atraíam as
multidões eram estritamente espirituais: O poder do Espírito Santo, a pregação
da doutrina sã, uma experiência de religioso de primeira-mão, paixão pelas
almas, devoção para a Bíblia e oração a Cristo, muita oração. Além disso, vale
lembrar que todas as biografias, mesmo as mais conservadoras, narram as curas
milagrosas feitas por Jesus nos cultos dirigidos pelo pregador inglês.
As
pessoas que ouviam Spurgeon, naquela época, faziam considerações sobre ele que
deixariam qualquer evangélico orgulhoso. O jornal The Times publicou, certa
ocasião, a respeito do pastor inglês: Ele pôs velha verdade em vestido novo. Já
o Daily Telegraph declarou que os segredos de Spurgeon eram o zelo, a seriedade
e a coragem. Para o Daily Chronicle, Charles Spurgeon era indiferente à
popularidade; um gênio, por comandar com maestria, uma audiência. O Pictorial
World registrou o amor de Spurgeon pelas pessoas.
Importância - O amor de Spurgeon tinha raízes.
Casou-se em 20 de setembro de 1856 com Susannah Thompson e teve dois filhos, os
gêmeos não-idênticos Thomas e Charles. Fazíamos cultos domésticos sempre; quer
hospedados em um rancho nas serras, quer em um suntuoso quarto de hotel na
cidade. E a bendita presença do Espírito Santo, que muitos crentes dizem ser
impossível alcançar, era para nós a atmosfera natural. Vivíamos e respirávamos
nEle, relatou, certa vez, Susannah.
A
importância de Charles Haddon Spurgeon como pregador só encontra parâmetros em
seus trabalhos impressos. Spurgeon escreveu 135 livros durante 27 anos
(1865-1892) e editou uma revista mensal denominada A Espada e a Espátula. Seus
vários comentários bíblicos ainda são muito lidos, dentre eles: O Tesouro de
Davi (sobre o livro de Salmos), Manhã e Noite (devocional) e Mateus - O
Evangelho do Reino. Até o último dia de pastorado, Spurgeon batizou 14.692
pessoas. Na ocasião em que ele morreu - 11 de fevereiro de 1892 -, seis mil
pessoas leram diante de seu caixão o texto de Isaías 45.22a: Olhai para mim e
sereis salvos, vós todos os termos da terra.
CITAÇÕES
"Que seu molho de lã fique na eira da súplica
até que seja molhado com orvalho do céu".
"Entre dois males, não escolha nenhum".
“A convicção de ignorância é a porta de entrada do
templo da sabedoria”.
"A Lei do Senhor é o pão de cada dia do
verdadeiro crente".
"O diabo raramente criou algo mais perspicaz
do que sugerir à igreja que sua missão
consiste em prover entretenimento para as pessoas, tendo em vista ganhá-las
para Cristo".
"Hoje em dia ouvimos alguém extrair do seu
contexto uma frase isolada na Bíblia e clamar: “Eureka!”, como se tivesse
descoberto uma nova verdade; no entanto, não achou um diamante, mas um pedaço
de vidro quebrado".
"Aqueles que mergulham no mar das aflições
trazem pérolas raras para cima".
"Nada deveria ser o alvo do pregador a não ser
a glória de Deus através da pregação do Evangelho da salvação".
"Vocês e eu, somos constrangidos a pregar o
Evangelho, mesmo que nenhuma alma jamais seja convertida por ele; pois o grande
propósito do evangelho é a glória de Deus, visto que Deus é glorificado mesmo
naqueles que rejeitam o evangelho".
"Preguem o Evangelho tendo em vista unicamente
a glória de Deus, ou então, segurem suas línguas."
"A Bíblia fala no tom de voz do próprio Deus".
"Deus escreve com uma pena que nunca borra,
fala com uma língua que nunca erra, age com uma mão que nunca falha".
"Muitos livros em minha biblioteca estão agora
desatualizados. Foram bons enquanto eram novos, à semelhança das roupas que
usei quando tinha dez anos de idade; mas eu cresci e as deixei para trás.
Entretanto, ninguém jamais deixa para trás as Escrituras por ter crescido; esse
Livro se amplia e é mais conhecido à medida que passam nossos anos".
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