Introdução
Jonathan
Edwards, um pastor congregacional norte-americano que viveu no século XVIII,
foi uma das personalidades religiosas mais destacadas da história da igreja nos
últimos três séculos. Os estudiosos da sua vida e obra o tem considerado o
maior filósofo e teólogo já produzido pelos Estados Unidos e especialmente o
mais importante e influente dos calvinistas americanos.(1) Benjamin B. Warfield
cita o testemunho do filósofo francês Georges Lyon, segundo o qual, tivesse
Edwards permanecido apenas no campo da filosofia e da metafísica, sem enveredar
pela teologia, ele talvez viesse a ocupar "um lugar ao lado de Leibnitz e
Kant entre os fundadores de sistemas imortais."(2)
O fato é
que, tendo sido inicialmente, durante a sua juventude, atraído pela filosofia,
notadamente sob a influência de grandes empiricistas e cientistas ingleses como
John Locke (1632-1704) e Isaac Newton (1642-1717), eventualmente as
preocupações de ordem religiosa tornaram-se poderosamente dominantes em sua
vida e pensamento. Tais preocupações finalmente o levaram ao ministério
pastoral e à teologia.
Além da sua
notável produção filosófica e teológica, Edwards destaca-se por outros fatores.
Ele foi também um extraordinário pregador, cujos sermões, proferidos com a mais
sincera convicção, causavam um poderoso impacto.(3) Em virtude disso, ele veio
a ser um dos protagonistas do célebre avivamento religioso americano que ficou
conhecido como o Grande Despertamento (1735-44). Mais ainda, com sua pena
habilidosa, Edwards tornou-se o principal estudioso e intérprete do avivamento,
registrando descrições e análises sobre os seus fenômenos espirituais e
psicológicos que até hoje não foram superadas.
Finalmente,
Edwards impressiona por sua grande síntese entre fé e razão, tanto em sua vida
pessoal quanto em sua produção literária. Dotado de uma mente inquiridora e
disciplinada, e acostumado a refletir sobre um tema até as suas últimas
implicações, ele também foi um homem de espiritualidade profunda e
transbordante, que teve como a maior das suas preocupações a celebração da
graça e da glória de Deus.
No Brasil, a
vida e contribuição de Edwards ainda são essencialmente desconhecidas nos meios
evangélicos, até mesmo nos círculos acadêmicos.(4) A única coisa que muitos
associam com ele é o célebre sermão "Pecadores nas mãos de um Deus
irado,"(5) que, embora aborde um tema importante da sua teologia, está
longe de ser representativo da sua obra como um todo e certamente não expressa
algumas das principais ênfases da sua reflexão.
Sobre este
sermão, baseou-se em Deuteronômio 32:35. Depois de explicar a passagem,
acrescentou que nada evitava que os pecadores caíssem no inferno, a não ser a
própria vontade de Deus. Afirmou que Deus estava mais encolerizado com alguns
dos ouvintes do que com muitas pessoas que já estavam no inferno. Disse que o
pecado era como um fogo encerrado dentro do pecador e pronto, com a permissão
de Deus, a transformar-se em fornalhas de fogo e enxofre, e que somente a
vontade de Deus indignado os guardava da morte instantânea.
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O sermão foi
interrompido pelos gemidos dos homens e os gritos das mulheres; quase todos
ficaram de pé ou caídos no chão. Durante a noite inteira a cidade de Enfield
ficou como uma fortaleza sitiada. Teve início um dos maiores avivamentos dos
tempos modernos na Nova Inglaterra.
O objetivo
do presente artigo é oferecer uma introdução ao estudo de Jonathan Edwards, o
homem, o líder, o pensador cristão. Iniciaremos com uma síntese da sua vida e
carreira ministerial, continuando com a apresentação e classificação dos seus
escritos e uma análise de alguns pontos salientes da sua reflexão teológica,
entre os quais as suas idéias acerca do avivamento.(6)
I. Dados
Biográficos
Jonathan
Edwards nasceu em East Windsor, Connecticut, em 5 de outubro de 1703, sendo seu
pai um piedoso ministro congregacional. Precoce e religioso desde a sua
meninice, aos 12 anos ele escreveu a uma de suas irmãs: Pela maravilhosa bondade
e misericórdia de Deus, houve neste lugar uma extraordinária atuação e
derramamento do Espírito de Deus,... tenho razões para pensar que agora
diminuiu em certa medida, mas espero que não muito. Cerca de treze pessoas
uniram-se à igreja em um estado de plena comunhão.(7) Depois de dar os nomes
dos convertidos, ele acrescentou: "Acho que muitas vezes mais de trinta
pessoas se reúnem às segundas-feiras para falar com o Pai acerca da condição
das suas almas."
O lar de
Edwards estimulou de maneira poderosa a sua vida espiritual e intelectual. Ele
começou a estudar latim aos seis anos e aos treze também já havia adquirido um
respeitável conhecimento de grego e hebraico. Após quatro anos de estudos no
Colégio de Yale, em New Haven, Edwards obteve o seu grau de bacharel em 1720.
Logo em seguida, encetou seus estudos teológicos na mesma instituição, obtendo
o grau de mestre em 1722. Após pastorear uma igreja presbiteriana em Nova York
por oito meses (1722-23) e atuar como professor assistente em Yale por dois anos,
em 1726, aos 23 anos de idade, Edwards passou a trabalhar como
pastor-assistente do seu avô, Solomon Stoddard (1643-1729), o famoso ministro
da igreja de Northampton, Massachusetts. Essa igreja era provavelmente a maior
e a mais influente da província, à exceção de Boston. Houve uma época em que
chegou a ter seiscentos e vinte membros, incluindo quase toda a população
adulta da cidade.
Em julho de
1727, Edwards casou-se com Sarah Pierrepont, então com 17 anos, filha de James
Pierrepont, o conhecido pastor da igreja de New Haven, e bisneta do primeiro
prefeito de Nova York. Os historiadores destacam a grande harmonia, amor e
companheirismo que caracterizou a vida do casal.(8) Eles gostavam de andar a
cavalo ao cair da tarde para poderem conversar e antes de se recolherem sempre
tinham juntos os seus momentos devocionais.
Jonathan e
Sarah tiveram 11 filhos, todos os quais chegaram à idade adulta, fato raro
naqueles dias. Em 1900, um repórter identificou 1400 descendentes do casal
Edwards. Entre eles houve 15 dirigentes de escolas superiores, 65 professores,
100 advogados, 66 médicos, 80 ocupantes de cargos públicos, inclusive 3
senadores e 3 governadores de estados, além de banqueiros, empresários e
missionários.(9)
Em 1729, com
a morte do seu avô, Jonathan tornou-se o pastor titular da igreja de
Northampton, na qual, através de sua poderosa pregação, ocorreu um grande
avivamento cinco anos mais tarde (1734-35).(10) O Grande Despertamento, que
tivera os seus primórdios alguns anos antes entre os presbiterianos e
reformados holandeses na Pensilvânia e Nova Jersey, cresceu com as pregações de
Edwards e atingiu o seu apogeu no ano de 1740, com o trabalho itinerante do
grande avivalista inglês George Whitefield (1714-1770).(11)
Em 1750,
após 23 anos de pastorado, Jonathan Edwards foi despedido pela sua igreja. A
razão principal foi a sua insistência de que somente pessoas convertidas
participassem da Ceia do Senhor, em contraste com a prática anterior do seu
avô. No seu sermão de despedida, depois de advertir a igreja sobre as contendas
que nela havia e os perigos que isso representava, ele concluiu: Portanto,
quero exortá-los sinceramente, para o seu próprio bem futuro, que tomem cuidado
daqui em diante com o espírito contencioso. Se querem ver dias felizes, busquem
a paz e empenhem-se por alcançá-la (1 Pe 3.10-11). Que a recente contenda sobre
os termos da comunhão cristã, tendo sido a maior, seja também a última. Agora
que lhes prego meu sermão de despedida, eu gostaria de dizer-lhes como o
apóstolo Paulo disse aos Coríntios em 2 Coríntios 13.11: "Quanto ao mais,
irmãos, adeus! Aperfeiçoai-vos, consolai-vos, sede do mesmo parecer, vivei em
paz; e o Deus de amor e de paz estará convosco".(12)
No ano
seguinte, Edwards foi para Stockbridge, uma região remota da colônia de
Massachusetts, onde trabalhou como pastor dos colonos e missionário entre os
índios. Em 1757, a sua excelência como educador e sua fama como teólogo e
filósofo fizeram com que ele fosse convidado para ser o presidente do Colégio
de Nova Jersey, a futura Universidade de Princeton. Em 22 de março de 1758, um
mês após a sua posse, Edwards morreu devido a complicações resultantes de uma
vacina contra varíola.
II. Produção
Literária
A produção
literária de Jonathan Edwards foi gigantesca.(13) Antes de completar vinte
anos, quando ainda estudava teologia em Yale, ele começou a escrever o tratado
filosófico Sobre o Ser. Pouco depois (1722-23), ele redigiu as suas célebres
Resoluções e começou a escrever o seu Diário e as Miscelâneas. As Resoluções
são 70 regras de disciplina pessoal que Edwards comprometeu-se a ler uma vez
por semana durante o resto da sua vida.(14) Em seu Diário, ele faz um profundo
auto-exame e preocupa-se em avaliar até que ponto estava cumprindo com as
resoluções. Já as Miscelâneas são cadernos teológicos ou uma espécie de diário
intelectual que Edwards escreveu ao longo de trinta e cinco anos e mostram o
desenvolvimento do seu pensamento. Edwards também escreveu sobre suas
experiências de vida em sua Narrativa Pessoal (1739), que oferece uma visão
fascinante da sua infância, do relacionamento com o seu pai e de suas lutas com
o seu próprio pecado e com as doutrinas calvinistas da soberania de Deus e da
predestinação.
Algumas das
obras mais penetrantes de Edwards tratam do fenômeno da psicologia religiosa, a
partir das suas próprias experiências com os reavivamentos de Northampton e,
posteriormente, com o Grande Despertamento como um todo. Seu primeiro escrito a
tratar da natureza da experiência religiosa nesse contexto foi uma carta
escrita em 1736, publicada no ano seguinte sob o título Fiel Narrativa da
Surpreendente Obra de Deus (também conhecida como Narrativa de Conversões
Surpreendentes). Essa carta analisa eventos ocorridos durante o reavivamento
local em Northampton (1734-35). Alguns anos mais tarde Edwards publicou Marcas
Distintivas de uma Obra do Espírito de Deus (1741) e Alguns Pensamentos Acerca
do Presente Reavivamento da Religião na Nova Inglaterra (1742), tratando do
movimento mais amplo.(15) Em 1746, ele publicou seu estudo mais amadurecido
sobre a experiência do avivamento, o Tratado Sobre as Afeições Religiosas,
baseado em uma série de sermões sobre 1 Pedro 1:8 ("... a quem, não
havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria
indizível e cheia de glória"). Nessa obra ele argumenta que o verdadeiro
cristianismo não é evidenciado pela quantidade ou intensidade das emoções
religiosas, mas está presente sempre que um coração é transformado para amar a
Deus e buscar o seu prazer.
Edwards
também produziu muitas obras teológicas altamente significativas. À semelhança
das suas obras sobre a experiência religiosa, os seus escritos teológicos têm
uma dimensão prática, estando diretamente ligados a acontecimentos e
preocupações do seu tempo. Por exemplo, a controvérsia em que se envolveu com a
sua congregação sobre quem tinha o direito de participar da Santa Ceia levou-o
a escrever Qualificações para a Comunhão, em 1749, onde argumenta que somente
pessoas convertidas devem receber o sacramento.
Rejeitado
por sua igreja, Edwards passou os últimos oito anos da sua vida na remota
Stockbridge, período esse que foi o mais fértil na sua reflexão e produção
teológica. Foi nessa época que ele escreveu seu monumental tratado A Liberdade
da Vontade(16) (1754), onde argumenta que o ser humano é certamente livre (uma
idéia crescentemente popular na Idade da Razão), mas Deus permanece soberano e
é o único responsável pela salvação humana.(17) Outras obras escritas nesse
período foram: O Fim Para o Qual Deus Criou o Mundo e A Natureza da Verdadeira
Virtude(18) (publicadas postumamente em 1765); O Pecado Original (1758); e
História da Obra da Redenção.
Edwards não
chegou a concluir sua História da Obra da Redenção, um colossal tratado
teológico na forma de uma história, em que ele planejava traçar a atuação de
Deus desde a criação até os seus próprios dias. A fim de preparar-se para essa
tarefa, Edwards leu todas as obras históricas a que teve acesso. O material
básico do tratado, uma série de preleções feitas em 1739, foi publicado na
Escócia em 1774 e nos Estados Unidos em 1786.
Outro
volumoso conjunto de escritos deixados por Edwards são os seus sermões, um dos
quais, "Deus é Glorificado na Dependência do Homem" (1 Co 1:29-31),
pregado a um grupo de pastores de Boston em 1731, foi o primeiro dos seus
escritos a ser publicado. Outro importante sermão é "Uma Luz Divina e
Sobrenatural" (Mt 16:17), proferido em 1733. Ocupam lugar de destaque os
seus 15 sermões sobre "A Caridade e seus Frutos" (1 Coríntios 13), pregados
à igreja de Northampton em 1738, mas publicados somente em 1851.
A
correspondência pessoal de Edwards também constitui-se em um volumoso e valioso
conjunto de escritos, pois nela ele aborda os mesmos temas palpitantes dos seus
tratados e sermões.(19) O seu "Relato do Reavivamento de Northampton em
1740-42" faz parte de uma carta que escreveu a um destacado ministro de
Boston.
Edwards
também escreveu uma biografia do famoso missionário aos indígenas
norte-americanos David Brainerd (1718-1747) e publicou o seu Diário, um
clássico devocional. Brainerd estava para casar-se com Jerusha, uma filha de
Edwards, e morreu na casa deste aos 29 anos de idade, vitimado pela
tuberculose.
III.
Contexto Religioso e Intelectual
Quando
Jonathan Edwards iniciou o seu ministério, a região em que vivia, a Nova
Inglaterra, já vinha sendo colonizada pelos ingleses e seus descendentes há um
século. Os colonizadores foram os célebres puritanos, calvinistas que lutaram
por uma igreja mais pura no seu país de origem e que eventualmente vieram para
o Novo Mundo a fim de viverem sem impedimentos de acordo com as suas convicções
religiosas. Ao chegarem a Massachusetts, primeiro a Plymouth (1620) e depois a
Salem e Boston (1629-30), eles procuraram edificar uma comunidade verdadeiramente
cristã e uma igreja composta de pessoas convertidas e comprometidas com Deus.
Apesar de alguns problemas, e de certa intolerância para com outros grupos que
pensavam de maneira diferente, eles conseguiram realizar esses ideais por algum
tempo.
Eventualmente,
depois de um período inicial de sofrimentos e provações amargas, os colonos
prosperaram materialmente na nova terra cheia de tantas oportunidades. No final
do século XVII, a vida na Nova Inglaterra era em grande parte pacífica e
confortável. A maioria das pessoas pertencia à classe média e quase não havia
pobreza. O nível educacional também era relativamente alto.(20) Todo esse
progresso havia sido alcançado por causa dos valores religiosos e éticos dos
puritanos, como o seu amor ao trabalho, sua disciplina de vida, sua rejeição de
vícios e a preocupação em serem bons mordomos das bênçãos de Deus. Porém,
juntamente com a prosperidade material, ocorreu um declínio no fervor religioso
entre as novas gerações. O cristianismo de muitos tornou-se meramente nominal;
o mundanismo e a apatia espiritual afetaram seriamente as igrejas.
Ao mesmo
tempo, as novas ideologias vindas da Europa estavam exercendo uma influência
crescente sobre a sociedade. A Idade da Razão caracterizou-se pela crença na
capacidade do ser humano para o bem, especialmente ao agir segundo os ditames
da razão. O racionalismo iluminista e sua versão religiosa, o deísmo, ameaçavam
diretamente não somente as convicções evangélicas e reformadas dos puritanos,
mas também os próprios fundamentos do cristianismo histórico. Muitos pensadores
europeus e americanos rejeitavam a idéia de uma humanidade pecadora que estava
sob o julgamento de um Deus justo.
Como um
homem culto e inquiridor, alguém que levava a sério as realidades e desafios do
seu tempo, Edwards propôs-se, em sua reflexão e em sua prática, a defrontar-se
com esse duplo ataque experimentado pela fé reformada. Ele envidou esforços não
somente no sentido de que a vida e a espiritualidade da igreja resgatassem o
que havia de positivo na experiência e contribuição dos puritanos, mas ao mesmo
tempo procurou fazê-lo de maneira intelectualmente defensável, buscando
demonstrar que não havia qualquer conflito intransponível entre fé e razão.
Sendo um
líder solidamente firmado na tradição puritana, com sua ênfase na experiência
espiritual, e não somente no conhecimento intelectual das verdades da fé,
Edwards recebeu com alegria a eclosão do avivamento em sua própria igreja e
posteriormente em escala mais ampla, não só na Nova Inglaterra mas em outras
partes das colônias americanas. Os pregadores do Grande Despertamento não
puseram de lado a ênfase puritana nas doutrinas, mas apelaram fortemente às
emoções.(21) Alguns deram ênfase excessiva às manifestações físicas associadas
com os sentimentos religiosos. As pessoas tocadas por um sermão poderiam
desmaiar, gritar, contorcer-se, cantar e ter outros tipos de reações físicas.
Obviamente,
nem todos os líderes religiosos ficaram empolgados com tais ocorrências. Muitos
clérigos influenciados pelo racionalismo, dos quais o mais famoso era Charles
Chauncy, de Boston, ressentiam-se com o entusiasmo religioso gerado pelo
avivamento. Eles o consideravam uma ameaça à autoridade estabelecida da igreja.
Entendiam que o subjetivismo religioso apelava aos instintos inferiores e que
uma pessoa racional não necessitaria que as suas crenças fossem substanciadas
por um coração aquecido e muito menos por desmaios, gemidos ou pulos de
alegria.(22) Assim sendo, surgiram dois partidos: os pastores contrários ao
avivamento, chamados Old Lights, que temiam uma ruptura da ordem e
da autoridade religiosa, e os New Lights, favoráveis ao movimento,
muitos dos quais também preocupavam-se com as distorções ocorridas.
IV.
Interpretando o Avivamento
Jonathan
Edwards defrontou-se com a difícil tarefa de defender o avivamento dos ataques
dos críticos e ao mesmo tempo apontar os desvios e falsas concepções acerca da
vida espiritual que o movimento podia gerar. Suas excepcionais qualificações
intelectuais e espirituais contribuíram para fazer dele o notável intérprete do
Grande Despertamento. Nas suas primeiras análises do tema, Fiel Narrativa da
Surpreendente Obra de Deus (1736), Marcas Distintivas de uma Obra do Espírito
de Deus (1741) e Alguns Pensamentos Acerca do Presente Reavivamento da Religião
na Nova Inglaterra (1742), ele não só descreve com detalhes os acontecimentos
verificados na sua igreja e na região, mas preocupa-se em responder às
acusações de que o reavivamento limitava-se a emoções, superficialidade e
desordem. Ele admitiu que o emocionalismo podia prejudicar o cristianismo
autêntico, mas também defendeu o avivamento apontando para o culto mais intenso
e para as vidas permanentemente transformadas.(23)
Curiosamente,
ao escrever a última obra mencionada acima, Edwards baseou-se em parte nas
experiências da sua esposa. Em janeiro de 1742, quando ele estava ausente
fazendo conferências, Sarah teve uma intensa crise espiritual marcada por
desmaios, visões e êxtases. Quando Edwards regressou, toda a cidade estava
comentando o assunto. Ele sentou-se com Sarah, pediu-lhe que lhe contasse tudo
o que ocorrera e escreveu toda a sua história. Sarah lhe disse que havia
recebido uma certeza do favor de Deus como nunca havia experimentado até então,
bem como o mais profundo sentimento de alegria espiritual. Edwards convenceu-se
de que a experiência da sua esposa foi uma crise espiritual a ser atribuída à
atuação de Deus e afirmou que a partir de então ela passou a realizar os seus
deveres domésticos como um "serviço de amor" marcado por constante
satisfação, paz e alegria.(24)
Todavia,
suas idéias mais refletidas e profundas encontram-se no seu grande clássico, o
Tratado Sobre as Afeições Religiosas (1746), escrito numa época em que a Grande
Despertamento já havia perdido o seu ímpeto inicial. Edwards argumenta que a
verdadeira religiosidade reside no coração, a sede dos afetos, emoções e
inclinações. Ao mesmo tempo, ele descreve com detalhes os tipos de emoções
religiosas que são em grande parte irrelevantes para qualquer aferição de uma
verdadeira espiritualidade. A obra termina com uma apresentação das doze
"marcas" que indicam a presença da religião verdadeira. Ele acentua,
em síntese, que não é a quantidade de emoções que indicam a presença da
verdadeira espiritualidade, mas a origem de tais emoções em Deus e a sua
manifestação através de obras consoantes com a lei de Deus.
Portanto,
Edwards destacou a centralidade das afeições na genuína experiência religiosa.
Conforme ele mesmo afirma, "as Escrituras Sagradas em toda parte colocam a
religião mui fortemente nas afeições, tais como temor, esperança, amor, ódio,
desejo, alegria, tristeza, gratidão, compaixão e zelo."(25) Como pondera
George Marsden, Edwards defendeu a religião do coração em contraste com os
críticos do reavivamento que ficavam somente com uma religião da cabeça, um
cristianismo que limitava-se a crer nas doutrinas certas e observar uma
moralidade apropriada.(26) Por outro lado, em seu tratado Edwards delineou
cuidadosamente alguns testes bíblicos para avaliar a genuína experiência
religiosa, incluindo entre eles a ênfase na obra graciosa de Deus, doutrinas
consistentes com a revelação bíblica e uma vida caracterizada pelos frutos do
Espírito.
Essa ênfase
numa espiritualidade calorosa e experimental é que torna Edwards tão atraente
para o grande pastor e escritor reformado do século XX que foi D. Martin
Lloyd-Jones. Ele considera que "em Edwards chegamos ao zênite ou ao ápice
do puritanismo, pois nele temos o que vemos em todos os outros [puritanos],
mas, em acréscimo, este espírito, esta vida, esta vitalidade
adicional."(27) Além das experiências da sua esposa, Edwards também relata
experiências pessoais de intensa emoção religiosa. Ele fala, por exemplo, do
que lhe aconteceu em 1737, quando orava nos bosques, em meio a uma cavalgada, e
teve uma visão da glória de Cristo que o manteve "a maior parte do tempo
num mar de lágrimas, chorando em voz alta."(28)
Edwards
admite, portanto, a possibilidade de manifestações emocionais e mesmo físicas
como conseqüência de uma experiência religiosa genuína, de um verdadeiro
encontro com Deus. Ele pode apontar para inúmeros exemplos bíblicos em que
manifestações gloriosas do Ser Divino causaram um poderoso impacto sobre
diferentes personagens. O que ele não concebe é que tais manifestações sejam
evidências decisivas a favor ou contra a autenticidade de uma experiência
religiosa. Elas não constituem uma norma geral: a maneira como alguém
experimenta a realidade de Deus não é necessariamente igual à de outro. O que
realmente revela se a experiência é verdadeira ou espúria são os efeitos, os
frutos revelados na vida e na conduta, a médio e longo prazo.
V. A
Centralidade de Deus
A
espiritualidade e a prática pastoral de Edwards têm o seu fulcro em suas
concepções a respeito de Deus. A sua teologia, suas noções acerca do
avivamento, sua cosmovisão e a sua ética individual e social têm aqui o seu
ponto de partida. Para Edwards, como bem aponta Lloyd-Jones, a religião é acima
de tudo um encontro vivo e existencial com Deus.(29) Edwards dá forte ênfase à
soberania, ao amor e à glória de Deus. O próprio propósito de Deus ao criar o
universo foi expressar o seu amor, comunicar-se com as suas criaturas, revelar
a sua glória e o seu resplendor. Para Edwards, como destaca Marsden, "a
essência da verdadeira experiência religiosa consiste em ser prostrado pela
visão da beleza de Deus, ser atraído pela glória das suas perfeições, sentir o
seu amor irresistível."(30)
Assim atua a
graça soberana de Deus: o coração humano é transformado pelo seu poder
irresistível, mas esse poder não é exercido como uma força externa imposta à
vontade. Antes, quando os olhos são abertos e a pessoa é cativada pela beleza,
glória e amor de Deus, quando a pessoa vê esse amor manifesto supremamente na
beleza do amor sacrifical de Cristo, ela é alegremente compelida a abandonar o
amor-próprio como o princípio central da vida, voltando-se para o amor de
Deus.(31) Edwards descreve o lado humano dessa experiência regeneradora como o
recebimento de um sexto sentido – um senso da beleza, glória e amor de Deus.
Assim sendo,
o conhecimento de Deus na verdadeira experiência cristã será um conhecimento
"sensível." Ele é diferente do mero conhecimento especulativo, do
mesmo modo como o sabor do mel é diferente da simples compreensão de que o mel
é doce. Portanto, a verdadeira experiência cristã não fundamenta-se apenas no
conhecimento e na afirmação das doutrinas cristãs verdadeiras, por importantes
que elas sejam. Antes, é um conhecimento afetivo, ou um senso das verdades que
as doutrinas descrevem. É o que Edwards afirma em seu célebre sermão "Uma
Luz Divina e Sobrenatural": Aquele que é espiritualmente iluminado... não
crê de maneira meramente racional que Deus é glorioso, mas tem um senso da
natureza gloriosa de Deus em seu coração. Não há somente uma percepção racional
de que Deus é santo, e de que a santidade é uma coisa boa, mas há uma percepção
do caráter atraente da santidade de Deus. Não há apenas a conclusão
especulativa de que Deus é gracioso, porém o senso de quão amável Deus é, ou o
senso da beleza deste atributo Divino.(32)
Além de
afirmar a centralidade de Deus na vida espiritual e na experiência religiosa do
crente, Edwards também o faz com relação ao mundo material. As novas concepções
científicas e filosóficas da Idade da Razão davam ênfase a um universo cada vez
menos dependente de Deus. Este parecia desnecessário em um cosmos que
funcionava independentemente seguindo as suas próprias leis. O Ser Supremo dos
deístas estava mui distante da sua criação. Edwards reagiu contra essas idéias,
afirmando que Deus deve ocupar um lugar central em toda a visão da realidade. A
essência de Deus é o amor, o que para Edwards significa que Deus está constantemente
comunicando o seu caráter, beleza, amor e glória às suas criaturas. Deus não é
somente o Criador, mas a cada momento sustenta a sua criação e fala por meio
dela. Deus é distinto da criação; todavia, a criação tem uma qualidade pessoal,
sendo parte da linguagem pela qual Deus expressa a sua bondade e glória às suas
criaturas.(33)
VI. Da
Teologia à Ética
Sem
abandonar a antropologia reformada tradicional, Edwards lhe dá novas ênfases e
a expõe de maneira peculiar em sua reação aos postulados do arminianismo e do
racionalismo. Como John H. Leith aponta, Edwards dá muito maior atenção à
vontade humana do que o fez Calvino.(34) Em A Liberdade da Vontade, Edwards
argumenta que a vontade não é uma faculdade independente, mas uma expressão da
motivação humana mais fundamental. "Querer" algo é agir de acordo com
os motivos mais fortes que existem no íntimo do indivíduo. O ser humano é
moralmente livre para fazer o que lhe agrada, porém o que lhe agrada é
determinado por motivos dos quais ele não é senhor.(35) Mark Noll observa que o
que Edwards faz aqui é argumentar de maneira agostiniana e calvinista que as
ações humanas são sempre consistentes com o caráter humano.(36)
Particularmente
importantes para Edwards são as implicações soteriológicas dessa concepção da
natureza humana. Aquele que é pecador por natureza jamais escolheria glorificar
a Deus, a menos que o próprio Deus transformasse o caráter dessa pessoa,
implantando um novo "senso do coração" para amar e servir a Deus. A
regeneração, um ato de Deus, é o fundamento do arrependimento e da conversão,
que são ações humanas. Em O Pecado Original, Edwards argumenta que toda a
humanidade estava presente em Adão quando este pecou e por isso todos partilham
da tendência para o pecado e da culpa que Adão trouxe sobre si mesmo. Assim, os
indivíduos são responsáveis pela sua própria pecaminosidade e ao mesmo tempo
estão presos aos ditames de uma natureza caída, até que sejam convertidos pela
graça soberana de Deus.
Noll observa
que grande parte dos temas centrais da teologia de Edwards estão presentes na
reflexão ética que dominou o último período da sua vida.(37) Ele estava
especialmente preocupado em contestar a "nova filosofia moral" do
Iluminismo, segundo a qual o ser humano possui certa faculdade natural que, adequadamente
cultivada, aponta o caminho para uma vida virtuosa. Em reação a isso, Edwards
afirma enfaticamente que a verdadeira virtude não pode ser entendida à parte de
Deus e da sua revelação. Em A Natureza da Verdadeira Virtude, Edwards argumenta
que a genuína moralidade somente pode resultar da graça regeneradora de Deus.
A abordagem
de Edwards nessa obra é tríplice. Primeiramente, ele reconheceu algum valor na
obra dos novos moralistas. Por causa da graça comum, as pessoas possuem uma
capacidade natural de agir eticamente em um determinado sentido. Em segundo
lugar, no entanto, Edwards insistiu que os benefícios sociais da virtude
natural ficam aquém da verdadeira virtude. Para ele, o fundamento inabalável
continua sendo a graça regeneradora pela qual Deus vivifica o pecador.
Estritamente falando, não há nenhuma coisa verdadeiramente boa que não seja
sempre e em toda parte dependente de Deus. Finalmente, Edwards também procurou
demonstrar que a imagem da virtude apresentada pelos novos filósofos morais era
simplesmente um misto de prudência, interesse pessoal e amor-próprio. Com tudo
isso, ele quis preservar a particularidade da graça e reafirmar a bondade de
Deus como a única fonte legítima da verdadeira virtude.(38)
Essas
considerações suscitam novamente a questão do avivamento, porque para Edwards
existe sempre uma profunda conexão entre ética e espiritualidade. Não se pode
separar a autêntica experiência de Deus dos frutos individuais e comunitários
que necessariamente produz. É essa precisamente a ênfase do Tratado sobre as
Afeições Religiosas, no qual Edwards analisa o avivamento a partir da
experiência pessoal do crente. Ao enumerar os sinais fidedignos e não
fidedignos da verdadeira espiritualidade, ele fornece princípios valiosos pelos
quais é possível avaliar se uma obra espiritual ou um movimento religioso
procede efetivamente do Espírito de Deus. Luiz Mattos sintetiza tais princípios
da seguinte maneira: Quaisquer manifestações externas resultantes de
experiências extraordinárias não constituem um sinal confiável de
espiritualidade e não evidenciam uma obra genuína do Espírito.
Uma obra
autêntica do Espírito de Deus produz uma transformação radical da natureza da
alma individual, que irá manifestar-se em uma conduta e em práticas
inteiramente novas, revelando progressivamente a própria imagem de Cristo
implantada no crente.(39)
Em outras
palavras, a experiência religiosa verdadeira produz uma mudança ética
individual que eventualmente irá externar-se na coletividade. Se tal mudança
não puder ser percebida, seja no indivíduo, seja na comunidade, o reavivamento
deve ser contestado como uma obra genuína de Deus. Esse aspecto social do
reavivamento é elaborado por Edwards no seu tratado inconcluso História da Obra
da Redenção, no qual, sob a ótica de sua posição pós-milenista, ele argumenta
que uma coletividade que experimenta o avivamento irá apresentar os sinais da
manifestação do reino de Deus. Essa sociedade "será dramaticamente
transformada, não por qualquer esforço humano político ou revolucionário, mas
pela ética do Reino a permear todos os relacionamentos."(40)
Finalmente,
é nas magníficas obras gêmeas O Fim Para o Qual Deus Criou o Mundo e A Natureza
da Verdadeira Virtude, bem como na rica série de sermões intitulada A Caridade
e Seus Frutos, que Edwards expressa alguns de seus mais sublimes pensamentos
acerca da experiência religiosa, focalizando-a, como é sempre a sua
preocupação, firmemente em Deus. Embora existam fins subordinados pelos quais
Deus decidiu criar o mundo, entre os quais a felicidade do ser humano, somente
pode haver um fim último e supremo, a saber, a manifestação da glória do
próprio Deus. A felicidade é parte do propósito final de Deus para o ser
humano, mas não a felicidade que provém de um estilo de vida egocêntrico, e sim
aquela que resulta de se viver para a glória de Deus. Isso se evidencia acima
de tudo através do amor, primeiramente para com Deus e então para com as outras
pessoas.
Um
avivamento genuíno é aquele em que Deus, sua glória e vontade, constituem a
motivação primordial, todos os outros interesses estando subordinados a esse.
Como aponta Luiz Mattos, "a expectativa de manifestações extraordinárias
ou dons extraordinários não percebe de maneira adequada o alvo final de Deus ao
conceder tais despertamentos."(41) A manifestação suprema a ser desejada é
o fruto mais rico do Espírito de Deus, o amor, que irá traduzir-se em
relacionamentos humanos transformados e enriquecidos.
Conclusão
Jonathan
Edwards foi inteiramente contrário à separação entre "coração" e
"cabeça" que tantas vezes tem afetado os evangélicos. Uma das
peculiaridades da sua obra teológica é justamente o fato de unir o mais rico
sentimento religioso aos mais elevados poderes intelectuais. Por um lado, à
semelhança de muitos filósofos seculares do Iluminismo, ele acreditava que o
ser humano é capaz de raciocinar adequadamente e resolver problemas de maneira
lógica. Por outro lado, Edwards fez uma síntese entre fé e razão que o põe em
continuidade com grande parte da história do pensamento cristão.
Embora tenha
sido um pensador independente e original, ele estava cônscio da obra de
precursores seus como os reformadores e os puritanos, e certamente foi
influenciado por eles. Ainda que não tenha sido um seguidor servil de Calvino,
Edwards foi um defensor convicto do calvinismo. A sua originalidade está não
tanto no conteúdo do seu pensamento quanto na sua maneira de pensar, produzindo
uma grande quantidade de argumentos novos e profundos em apoio das antigas
doutrinas da graça. Warfield opina que a defesa do calvinismo feita por Edwards
deteve por mais de um século a conquista da Nova Inglaterra pelo
arminianismo.(42)
Como bem
aponta Lloyd-Jones, Edwards evidencia-se pelo equilíbrio em suas posições
teológicas e práticas.(43) Ao mesmo tempo que combate o arminianismo, ele
também se opõe ao hiper-calvinismo. Ele afirma com igual ênfase a importância
da vida piedosa, de devoção e cultivo da interioridade, mas também a
necessidade de que essa vida produza frutos visíveis nos relacionamentos e na
comunidade. No entanto, as suas escolhas e prioridades são bem definidas.
Apesar da grande atração que sente pela razão e pelo intelecto, nele o aspecto
espiritual sempre domina o intelectual e as Escrituras sempre se sobrepõem às
especulações filosóficas.
Edwards não
esconde a sua apreciação por uma espiritualidade fervorosa e intensa. Ele é de
fato o teólogo do avivamento, da experiência, do coração.(44) Mas isso não
significa que a experiência seja o critério da verdade. Significa apenas que o
cristianismo tem de ser experimental e prático, não apenas racional e
cognitivo. A norma suprema de fé e o critério pelo qual se deve aquilatar toda
e qualquer experiência religiosa é sempre a Escritura. Curiosamente, Edwards
entende que não somente os adeptos do avivamento podem apelar erroneamente para
as suas experiências pessoais subjetivas, como também os opositores do
avivamento. Aqueles que não vivenciaram certas realidades espirituais, aqueles
que não experimentaram determinadas "afeições" religiosas em sua
vida, também não podem apelar para essa falta de uma experiência mais profunda
de Deus para condenar os que a tiveram.
Por todas
essas razões, Edwards é muito útil para as discussões atuais acerca da
verdadeira espiritualidade. Seu critério básico para definir a questão é o mesmo
que deve ser observado pela igreja contemporânea: verificar até que ponto Deus
ocupa o lugar central da vida, do culto, das práticas e do testemunho. Além de
advertir contra o mero emocionalismo, que excita as emoções mas não produz
transformações duradouras, Edwards também combate o erro de se dar ênfase não a
Deus, mas às respostas humanas a Deus, algo tão comum nos nossos dias com toda
a celebração do eu, a empolgação religiosa e os testemunhos auto-gratulatórios.
Em última análise, o que determina se a conversão e a vida espiritual são
genuínas ou não, são os seus frutos visíveis: convicção de pecado, seriedade
nas coisas espirituais, preocupação com a glória de Deus, apego às Escrituras,
mudança no comportamento ético, relações pessoais transformadas e influência
regeneradora na comunidade.
1 Jonathan
Edwards passou a despertar grande interesse entre os estudiosos a partir da
início da década de 1930, graças ao trabalho de pesquisadores como Perry
Miller, que o caracterizou como "o maior filósofo-teólogo que já adornou o
cenário americano." Ver Paul Helm, "Edwards, Jonathan," em The New International
Dictionary of the Christian Church, gen. ed. J.D. Douglas (Grand Rapids:
Zondervan, 1978).
2 Benjamin B. Warfield, "Edwards and the New England
Theology," Encyclopedia of Religion and Ethics, 1912. Também em The Works
of B.B. Warfield, Vol. 9 (Studies in Theology), 515-538.
3 Segundo
Warfield, foi em seus sermões que os estudos de Edwards produziram seus frutos
mais ricos. Os sermões de Jonathan Edwards constituem o maior conjunto de
manuscritos originais desse autor ainda disponíveis.
4 Uma
exceção é o trabalho de Luiz Roberto França de Mattos, "Jonathan Edwards
and the Criteria for Evaluating the Genuineness of the ‘Brazilian
Revival’," Dissertação de Mestrado, São Paulo, Centro Presbiteriano de Pós-Graduação
Andrew Jumper, 1997.
5 Jonathan
Edwards, Pecadores nas Mãos de um Deus Irado, 3ª ed. (São Paulo: Publicações
Evangélicas Selecionadas, c.1993). Esse sermão foi pregado por Edwards na
cidade de Enfield, Connecticut, em 1741.
6
Obviamente, a literatura acerca de Edwards e seu pensamento é imensa. Alguns poucos
exemplos são os seguintes: Perry Miller, Jonathan Edwards (Westport: Greenwood,
1995 [1949] ); C. Cherry, The Theology of Jonathan Edwards: A Reappraisal
(Bloomington: Indiana University Press, 1990 [1966]); Iain H. Murray, Jonathan
Edwards: A New Biography (Southampton, Inglaterra: Banner of Truth, 1987); John
H. Gerstner, Jonathan Edwards: A Mini-Theology (Wheaton, Illinois: Tyndale,
1987); Gerald R. McDermott, One Holy and Happy Society: The Public Theology of
Jonathan Edwards (Pennsylvania State University Press, 1992); John E. Smith,
Jonathan Edwards: Puritan, Preacher, Philosopher (South Bend: University of
Notre Dame, 1992); John E. Smith et al., A Jonathan Edwards Reader (New Haven: Yale
University Press, 1995); Stephen Stein, ed., Jonathan Edwards’ Writings: Text,
Context, Interpretation (Bloomington: Indiana University Press, 1996); Michael
J. McClymond, Encounters With God: An Approach to the Theology of Jonathan
Edwards (Oxford University Press, 1997).
7 "The Earliest Known Letter of Jonathan Edwards," Christian
History 4:4, 34. Minha tradução. A carta também menciona
as últimas mortes que ocorreram na cidade e dá informações sobre a saúde dos
membros da família, inclusive a sua própria dor de dente.
8 Elisabeth S. Dodds, "My Dear Companion," Church History 4:4,
15-17. George Whitefield narra em seu diário a
profunda impressão que a vida familiar dos Edwards lhe causou e como isso o
levou a renovar suas orações por uma boa esposa para si mesmo. (George
Whitefield’s Journals [Londres: Banner of Truth, 1960], 476-77, citado em Edwin
S. Gaustad, ed., A Documentary History of Religion in America: To the Civil
War, 2ª ed. [Grand Rapids: Eerdmans, 1993], 196).
9 Dodds,
"My Dear Companion," 16.
10 O
reavivamento ocorreu quando Edwards pregou uma série de sermões sobre a
justificação pela fé.
11 Sobre o
avivamento entre os presbiterianos, ver o artigo do Rev. Frans Leonard
Schalkwijk, "Aprendendo da História dos Avivamentos," em Fides Reformata
2:2, 61-68.
12 Christian History 4:4, pág. 4. Minha tradução.
13 Mark A.
Noll classifica os escritos de Edwards em teológicos, psicológicos, metafísicos
e éticos. "Edwards, Jonathan," em Walter Elwell, ed., Evangelical
Dictionary of Theology (Grand Rapids: Baker, 1984), 343-46.
14 A
primeira resolução afirma: "Resolvo que farei tudo aquilo que mais
contribua para a glória de Deus e para o meu próprio bem, proveito e prazer,
durante toda a minha existência..., assim como para o bem e o benefício da humanidade
em geral." A de nº 42 declara: "Resolvo renovar freqüentemente a
minha consagração a Deus que foi feita em meu batismo, a qual solenemente
renovei quando fui recebido à comunhão da igreja, e solenemente confirmo neste
dia 12 de janeiro de 1723."
15 Marcas
Distintivas de uma Obra do Espírito de Deus resultou de um sermão pregado por
Edwards em uma formatura de Yale, em setembro de 1741. A essência dos seus
argumentos foi desenvolvida em Alguns Pensamentos Acerca do Presente
Reavivamento.
16 Como na
maioria dos casos, esse título é apenas uma abreviação do enorme título
original: "Uma cuidadosa e estrita investigação das modernas noções
predominantes acerca daquela liberdade da vontade que se supõe ser essencial
para a agência moral, virtude e vício, recompensa e punição, aplauso e
repreensão."
17 Esse
tratado foi escrito para contestar não somente o argumento arminiano acerca do
livre arbítrio, mas também o determinismo anti-evangelístico do
hiper-calvinismo.
18 O Fim
para o Qual Deus Criou o Mundo e A Natureza da Verdadeira Virtude (escritos em
1753-54) não devem ser vistos como tratados separados, mas como obras
complementares: o fim para o qual Deus criou o mundo deve ser o objetivo de uma
vida verdadeiramente virtuosa e santa. Mattos, "Jonathan Edwards and the
Criteria for Evaluating the Genuineness of the ‘Brazilian Revival’," 124.
19 Uma das
principais edições das obras de Jonathan Edwards é The Works of Jonathan
Edwards, 2 vols. (Edinburgh: The Banner of Truth Trust, 1990 [1960]). A editora
da Universidade de Yale também está publicando as obras completas de Edwards
desde 1957. Os volumes lançados até agora são os seguintes: 1. A Liberdade da
Vontade (1957); 2. As Afeições Religiosas (1959); 3. O Pecado Original (1970);
4. O Grande Despertamento (1972); 5. Escritos Apocalípticos (1977); 6. Escritos
Científicos e Filosóficos (1980); 7. A Vida de David Brainerd (1985); 8.
Escritos Éticos (1989); 9. História da Obra da Redenção (1989); 10. Sermões:
1720-1723 (1992); 11. Escritos Tipológicos (1993); 12. Escritos Eclesiásticos
(1993); 13. Miscelâneas (1994); 14. Sermões e Discursos: 1723-1727 (1996); 15.
Escritos Bíblicos (1997); 16. Cartas e Escritos Pessoais (1997). Outra obra
significativa é: Alexander B. Grosart, ed., Selections from the Unpublished
Writings of Jonathan Edwards, reimpressão (Ligonier: Soli Deo Gloria
Publications, 1992 [1865]).
20 J. Stephen Land e Mark A. Noll, "Colonial New England: An Old
Order, a New Awakening," Church History 4:4, pág. 9.
21 Ibid. Todavia,
é importante ressaltar que os principais pregadores do Grande Despertamento, o
inglês George Whitefield e o próprio Jonathan Edwards, eram calvinistas
ortodoxos que davam às suas mensagens um teor intensamente bíblico, doutrinário
e fervoroso, sem apelar ao emocionalismo.
22 Essas
acusações tornaram-se mais plausíveis quando, após a famosa campanha
evangelística de Whitefield em 1739-40, surgiram imitadores extremados que
utilizavam técnicas manipulativas com os seus auditórios.
23 Noll, "Edwards, Jonathan," 345.
24 Dodds, "My Dear Companion," 17.
25 The Works of Jonathan Edwards, Vol. 2: Treatise Concerning Religious
Affections, ed. J.E. Smith (New Haven: Yale University Press, 1959), 102. Minha
tradução.
26 George M. Marsden, "Jonathan Edwards Speaks to our Technological
Age," Church History 4:4, pág. 27.
27 D.M.
Lloyd-Jones, Jonathan Edwards e a Crucial Importância de Avivamento (São Paulo:
Publicações Evangélicas Selecionadas, s/d), 5. Em particular, ele opina que o
elemento do Espírito Santo é mais proeminente em Edwards do que em qualquer
outro puritano. Ibid., 4.
28 The Works of Jonathan Edwards, 2 vols. (Edimburgo: Banner of Truth,
1990), I:47.
29 Lloyd-Jones, Jonathan Edwards, 14.
30 Marsden, "Jonathan Edwards Speaks," 27.
31 Ibid., 27-28
32 Works of Jonathan Edwards, II:14. Edwin S.
Gaustad transcreve as principais partes desse sermão em A
Documentary History,
214-220 (o trecho acima está na p. 216).
33 Marsden, "Jonathan Edwards Speaks," 28.
34 John H. Leith, An Introduction to the Reformed Tradition, ed. rev.
(Atlanta: John Knox, 1981), 120.
35 John T. McNeill, The History and Character of Calvinism (Londres:
Oxford University Press, 1954),
363.
36 Noll, "Edwards, Jonathan," 344.
37 Ibid., 345.
38 Ibid., 346.
39 Mattos,
"Jonathan Edwards," 98. Minha tradução.
40 Ibid.,
122. Minha tradução.
41 Ibid., 151. Minha tradução.
42 Warfield, "Edwards and the New England Theology."
43 Lloyd-Jones, Jonathan Edwards, 13.
44 Ibid., 20-21.
Fonte: http://www.thirdmill.org/portuguese / Alderi Souza de Matos é doutor
em história da igreja pela
Universidade de Boston e historiador oficial da
Igreja Presbiteriana do Brasil.
Postado originalmente em: http://www.mackenzie.com.br/7077.html
Postado originalmente
em: http://www.mackenzie.com.br/7077.html
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