Fazemos
parte de uma igreja reformada. Nossa fé é reformada, nossos
princípios são reformados, temos uma história que nos liga à
reforma. Infelizmente nem tudo é reformado como deveria ser.
Por
tradição somos descendentes da Reforma, mas na prática estamos
ficando longe dela. Já não há mais zelo nem apego aos princípios
da reforma; muito são os que somente usam a expressão por mera
conveniência.
Muitos
são os que nem sabem do que se está falando quando são usadas as
palavras “Reforma Protestante”. Para alguns se trata de uma
reforma que se pretendeu ou se pretende fazer em algum lugar ou em
algo; trata-se de um termo vago que não acrescenta nada.
Ao
usar a expressão “Reforma Protestante” refiro-me ao avivamento
ocorrido no Século 16, quando Deus, na sua infinita bondade,
restaurou a Sua igreja trazendo-a de volta aos princípios da igreja
primitiva apostólica. Uma igreja edificada sobre o fundamento dos
apóstolos para ser luz no mundo, propagando a salvação que Deus
oferece através e unicamente de Cristo Jesus.
O
maior alvo das trevas é ofuscar a luz. A luz de Deus vem através da
oferta de salvação que tem sua base na obra vicária realizada por
Cristo Jesus na Cruz do Calvário. Nessa, e tão somente nessa, obra
o homem pode ter paz com Deus e vida eterna.
Foi
isso que a Reforma resgatou por ocasião do século 16. O mundo
andava perdido e enfronhado nas trevas que a própria igreja havia
permitido expandir. Quando abandonou a simplicidade do evangelho de
Cristo a igreja permitiu que os homens vivessem no paganismo,
praticando vários tipos de torpeza por não conhecerem a verdade de
Deus nas Escrituras, ou por serem verdadeiramente pagãos
supostamente feitos cristãos. Os prejuízos foram enormes.
Interesses escusos de uma liderança corrupta provocaram muitos
desastres e solaparam a igreja que deveria ser luz nas trevas.
Quando
os homens trocam a simplicidade do evangelho de Cristo por coisas vis
e banais (lixo, refugo), há sempre muitos prejuízos. Nesse quadro
obscuro e desolador, Deus veio e trouxe fogo dos céus aquecendo o
coração dos seus eleitos e levantando-os para bradarem por uma
reforma que urgia acontecer.
Hoje
o maior alvo da igreja é não perder de vista o que ocorreu na
Reforma do Século 16. Aquilo que aconteceu deve nos servir de sinal
sobretudo nos advertindo do que foi resgatado e de onde foi
resgatado. A simplicidade do evangelho de Cristo estava profundamente
afetada pelos desvios em que se encontrava a igreja; foi dessa
podridão toda que o evangelho genuíno foi reavivado.
A
igreja tem de observar que os velhos erros não podem mais ocorrer
para beneficio seu. Mas não é o que vemos. Vários movimentos
tendem a se fortalecer na presente era desviando mais uma vez o homem
da verdade.
Nessas
últimas décadas vários movimentos vêm afastando a igreja do seu
principal e vital papel no mundo. Igrejas que eram sérias (ou ao
menos começou com essa proposta) estão se tornando verdadeiras
igrejas apóstatas.
Vários
são os artifícios usados para desviar os homens da verdade.
Fenômenos como dente de ouro (Quem se lembra?), fizeram sucesso no
meio evangélico. Um jornal de nossa cidade (o 2º maior jornal)
informou na época que era um fenômeno que tinha ocorrido primeiro
em uma mãe de santo por nome Guilhermina, na cidade de Salvador,
Bahia. Você conhece alguém que tem esses supostos dentes de ouro? E
há outros como: “fenômeno (ou unção) do riso”, “cair no
Espírito”, etc. Fraude, farsa, engano, são o que esses filhos do
diabo propagam. A mentira jamais procede de Deus; esses supostos
fenômenos citados são evidências de que essas pessoas são
instrumentos do maligno a propagar seus interesses infernais.
Todos
esses casos são dignos de repulsa e punição. Como nos esquecemos
fácil deles! Muitos movimentos saem e entram sem nenhum
questionamento por parte dos fiéis. Vão bebendo de um poço e de
outro sem perceberem que se trata de água podre.
Certa
ocasião na cidade de São Paulo uma jovem tinham um irmão que
estava com câncer. Alguns crentes que criam na Confissão Positiva
(ou seja, se você decretar o milagre ocorre) afirmavam que Deus já
havia o curado e que ela que ela deveria decretar a cura dele. Poucos
dias depois aquele jovem faleceu. Depois disso, aquela jovem além da
dor da perda foi assolada por um sentimento de culpa, pois os
pretensos profetas lhe diziam que seu irmão morrera porque ela não
teve fé para ele ser curado.
No
Velho Testamento caso de mentira ou de engano era punido com a morte.
Lemos em Deuteronômio 13.1-5 diz: “Quando
profeta ou sonhador se levantar no meio de ti e te anunciar um sinal
ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio de que te houver
falado, e disser: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e
sirvamo-los, não ouvirás as palavras desse profeta ou sonhador;
porquanto o Senhor, vosso Deus, vos prova, para saber se amais o
Senhor, vosso Deus, de todo o vosso coração e de toda a vossa alma.
Andareis após o Senhor, vosso Deus, e a ele temereis; guardareis os
seus mandamentos, ouvireis a sua voz, a ele servireis e a ele vos
chegareis. Esse profeta ou sonhador será morto, pois pregou rebeldia
contra o Senhor, vosso Deus, que vos tirou da terra do Egito e vos
resgatou da casa da servidão, para vos apartar do caminho que vos
ordenou o Senhor, vosso Deus, para andardes nele. Assim, eliminarás
o mal do meio de ti.” Se isso acontecesse hoje,
certamente que não teríamos a quantidade de igreja que vemos por
dois motivos: primeiro, muitos falsos profetas estariam sendo
condenados a morte. Segundo, haveria mais cautela em se abrir igreja
ou afirmar cura miraculosa profetizando engano.
Segundo
Deuteronômio 13.1-5 é Deus quem permite os falsos profetas se
levantarem no meio do povo trazendo engano. Deus faz isso para testar
o povo, “para saber se amais o Senhor, vosso Deus, de todo o vosso
coração e de toda a vossa alma”. É baseado no comportamento
daqueles que dizem amar a Deus que Ele vem e estabelece a Sua
justiça. Não foi sem motivo que Deus julgou o Seu povo no passado.
Por diversas vezes o Senhor testou o Seu povo “para saber o que
estava no teu coração” (Dt. 8.2) e esse povo caiu na
desobediência.
É
maravilhosa a forma justa e clara através da qual Deus testa seu
povo. Ele nunca faz isso sem primeiro dar garantias da Sua aliança
ou sem primeiro advertir o fiel a respeito do que Ele fará. Vejam o
caso desse texto supracitado; Deus disse que o povo seria testado e
que era a Sua mão fazendo isso; Deus os provaria, mas não faria
isso sem que , primeiro, soubessem que isso ocorreria como método
divino pra saber o que estava no coração do povo. Um outro exemplo,
entre tantos, é o de Abraão; Deus lhe ordenou que fosse e
sacrificasse seu filho Isaque. O Senhor ordenou, mas não, primeiro,
sem lhe falar. Deus lhe fez a promessa que lhe garantia uma
descendência que seria numerosa como a quantidade de estrelas nos
céus (Gênesis 15.5; 22.17).
O
que exemplifiquei acima tem como objetivo nos mostrar sobretudo isso:
Os erros aos quais a igreja se envolveu são injustificáveis. Os
erros que cometemos, são injustificáveis. Isso porque não erramos
sem advertências ou promessas dadas pelo Senhor. Quando a igreja
erra, erra por falta de atenção e zelo. O Senhor nos fala
claramente nas Escrituras qual é a Sua promessa no pacto, qual é a
Sua vontade e o que ele está fazendo em cada situação que nos é
apresentada. Em todo evento a mão de Deus nos proporciona
“desenvolver a salvação”; nos permite ter experiências com o
nosso amado Senhor. Se não houver atenção, não observaremos os
seus mandamentos e cairemos no pecado da idolatria, ou seja, amaremos
mais a nós mesmos do que a Deus, pois faremos a nossa própria
vontade e não a do Senhor.
Todos
os erros se estabelecem por falta de zelo; por não observarmos a
Palavra do Senhor, as Escrituras. O que Deus nos diz, nas Escrituras
é bastante claro e objetivo. Por mais que existam partes que
requeiram maior atenção e estudo devido a sua profundidade, as
Escrituras são claras à compreensão naquilo que é suficiente para
a salvação. Na Palavra de Deus “as coisas que precisam ser
obedecidas, criadas e observadas para a salvação, em uma ou outra
passagem da Escritura são tão claramente expostas e aplicadas, que
não só os doutos, mas ainda os indoutos, no devido uso dos meios
ordinários, podem alcançar uma suficiente compreensão delas”
(Conf. de Fé, cap. I, §7).
A
ausência e o desconhecimento das Escrituras produzem muitas
superstições e vícios profundamente tristes. É lamentável ver
como somos inclinados às tendências pagãs.
No
período da Reforma Protestante assim vivia o mundo da época.
Crenças estranhas e místicas eram vivenciadas por pessoas que se
julgavam religiosas. As pessoas criam em muitas superstições
herdadas dos antepassados. Havia muitas histórias que falavam de
espíritos malignos, bruxas, duendes, que pregavam peças, traziam
tempestades ou doenças, produzindo males para as pessoas. Várias
lendas provocavam muito medo nas pessoas levando-as a terem pavor dos
demônios e dos poderes das trevas. Margarete Lutero, mãe do
reformador alemão Martinho Lutero, insistia no fato de que uma bruxa
havia lhe colocado dores no corpo e de que um duende tinha feito o
leite azedar. A mãe de João Calvino, antes de morrer, quando este
tinha três anos de idade, caminhou com ele por cerca de duas horas
até chegarem no santuário de Sant’ana (suposta avó terrena do
Senhor Jesus). Quando lá chegaram, Jeanne o ergueu para que o
pequenino João beijasse a suposta relíquia da caveira de Sant’ana
que estava exposta num receptáculo. Em Noyon, cidade de Calvino,
havia diversas relíquias que eram adoradas como se fossem
verdadeiras: pedaços do maná do Velho Testamento, migalhas que
sobraram da primeira multiplicação dos pães, fragmentos da coroa
de espinhos, etc.
É
isso que acontece quando a palavra de Deus é retirada. Como no Velho
Testamento, Deus continua a fazer uso dos mesmos métodos para testar
seu povo. Há por trás desses elementos pagãos, não somente uma
intenção humana de perverter a verdadeira fé, mas uma ação de
Deus provando a igreja para ver o que está no coração do povo,
para sondar como Sua Palavra está firme e segura na alma daqueles
que dizem ser fiéis.
De
forma descarada a Palavra de Deus tem sido retirada dos púlpitos das
igrejas em nossos dias. São realizadas reuniões onde a Bíblia não
é lida e nem citada, exceto quando para beneficiar uma argumentação
que favorece algum interesse estranho às Escrituras. É volta ao
paganismo medieval o que vemos ocorrendo no contexto evangélico
brasileiro: água do Rio Jordão, pedrinhas do Monte Sinai, óleo
ungido de Israel, saquitel de mirra, aliança da promessa, etc. Por
outro lado vemos, ainda, o poder e a ganância de líderes que se
autopromovem.
Isso
é resultado do abandono da Palavra do Senhor. São esses os
elementos que nos levam a ver a necessidade da igreja viver uma nova
reforma. Afinal… tudo o que vemos e é chamada de Igreja de Deus,
de fato é?
O
lema “Igreja Reformada, sempre reformando”, identificado como
sendo de Gisbertus Voetius (1589-1676), teólogo reformado holandês,
deve ser mais do que nunca compreendido por nós.
Alguns
fazem mal uso desse termo. Pensam que ele significa uma constante
mudança e uma inovação que deve estar sempre ocorrendo dentro da
igreja. Fazem uso desse lema para justificar uma transformação
teológica, liturgia e religiosa que tentam provocar. Mudanças são
produzidas na adoração a Deus e costuma-se alegar que é algo
benéfico para os fiéis. Na verdade nada mais é do o uso de
elementos não prescritos nas Escrituras o que se empreende. É
exatamente para esse perigo que esse princípio, “Igreja Reformada,
sempre reformando”, chama a atenção.
Esse
lema significa que precisamos sempre voltar às origens, pois é
muito fácil se desviar. Pressupõe a maldade, a humanidade, a
depravação e a tendência à perversão que persiste no coração
do homem e que está sempre tentando se levantar contra Deus e Sua
Palavra.
Vejam
o que ocorreu sempre na história; vários desvios foram censurados e
punidos exatamente porque não se atentou para as ordenanças
divinas. Essa tendência sempre foi vista sensivelmente.
No
contexto do Velho Testamento Deus deu a Moisés uma lei e uma
liderança sobre o povo de Israel; mesmo contando com uma exortação
constante o povo se desviou; o próprio Moisés foi levado a
desobedecer a Deus. Josué conclamou o povo a servir ao Senhor de
todo o coração (Josué 24.14-25). Josias necessitou fazer uma
reforma religiosa nos seus dias, pois o povo não temia mais ao
Senhor (II Reis 22-23).
Olhemos
para o contexto da igreja primitiva. Era uma igreja que como
instituição tinha todos os elementos para ser pura e dinâmica. Uma
igreja apostólica; possuía homens que Jesus havia credenciado para
dar seqüência à obra que ele havia iniciado. Pensamos, deveria ser
pura e sem mácula. Mas, na igreja de modo geral, muita luta foi
empreendida contra vários erros e heresias que tentavam perverter a
mensagem pura do evangelho de Cristo. O apóstolo Paulo escreve:
“Acautelai-vos dos cães! Acautelai-vos dos maus obreiros!
Acautelei-vos da falsa circuncisão!” (Filipenses 3.2). Já no
nascedouro a igreja experimenta a necessidade de estar se reformando.
A luta contra as heresias deve ser constante, pois é natural ao
homem influenciado pelo pecado, perverter tudo o que é santo e reto.
No
Século 16 os reformadores voltaram à fonte; voltaram às
Escrituras, mas não sem estar lutando sempre contra heresias que
tentavam se preservar ou se formar. Tiveram que lutar para voltar
sempre.
Mesmo
sendo do Senhor, lavados e remidos pelo precioso sangue de Cristo,
nosso Salvador, estamos vivendo no mundo e estamos sujeitos as
influências do pecado. Enquanto estamos aqui no mundo, mesmo não
sendo do mundo, erramos e nos esquivamos na nossa adoração a Deus e
estamos sujeitos a fazer aquilo que é contrário a vontade do
Senhor. Eis o motivo porque devemos estar sempre “reformando”.
Uma constante análise e reavaliação só salvará as nossas almas
das conseqüências dos desvios.
Deus
não espera de nós senão obediência. Deuteronômio 12.32 diz “Tudo
o que eu te ordeno observarás; nada lhe acrescentarás, nem
diminuirás.” Isso sinaliza para o fato de que aquilo que devo
crer, viver, ensinar, praticar… deve ter como referencial o que
Deus falou em Sua Palavra. Devemos nos lembrar sempre que a Palavra
de Deus continua e continuará sendo a única regra infalível de fé
e prática. O “Sola Scriptura” deve lembrar que o referencial a
ser sempre seguido deve ser o que Deus disse nas Escrituras.
Onde
está o motivo de tantas heresias, paganismo e superstições senão
na falta de conhecimento das Escrituras? O Senhor havia falado
através do Seu profeta: “O meu povo está sendo destruído, porque
lhe falta o conhecimento.” (Oséias 4.6a). Essa é a descrição
fiel de nossos dias. Há muitos líderes que preocupados em manter a
sua membresia, desviam-se de proclamar toda a verdade de Deus. Mal
sabem eles que serão julgados por isso, pois o Senhor ainda diz:
“Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te
rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te
esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus
filhos.” (Oséias 4.6b)
Só
existe um meio de resgatar a igreja e livrá-la da apostasia, esse
meio é estar “… sempre Reformando”. Não temos como reformar a
igreja sem a efetiva intervenção de Deus, portanto, isso só
ocorrerá quando ouvirmos e executarmos o que Deus falou nas
Escrituras sagradas. Quanto mais nos desviarmos das Escrituras, mais
erraremos e nos distanciaremos da verdade de Deus que liberta (João
8.32).
Ah!
Que Deus nos dê a graça de reformarmos sempre até chegarmos à
glória onde alcançaremos a perfeição. Que Deus nos abençoe e nos
reforme sempre para o louvor da Sua glória. Amém.
**
texto postado originalmente em Igreja Presbiteriana Setor Bueno pelo
Rev. Rosalvo S. Maciel
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